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Metro, Ritmo e Rima
• Metro: é o nome que se dá à extensão da linha poética. Pela contagem de
sílabas de um verso, podemos estabelecer seu padrão métrico e suas unidades
rítmicas.
• Escansão é a contagem das sílabas de um verso. A seguir, as regrinhas para
se escandir versos:
1) Na contagem das sílabas métricas, contamos até a última sílaba tônica e
desprezamos a
sílaba ou sílabas átonas finais. Diante disso, ao encontrarmos um vocábulo
paroxítono não
contamos a última sílaba (en/ con/ tro). Nas proparoxítonas, desprezamos, para
efeito de
contagem, as duas últimas sílabas (cá/ lido).
2) Quando houver encontro de vogais (vogal no fim de uma palavra e outra
vogal no início
do vocábulo seguinte), formando um ditongo, conta-se apenas uma sílaba
métrica:


3) Ditongos crescentes forma uma única sílaba métrica: ma/ li/ cia; tê/ nue.
4) Os hiatos permanecem com suas vogais separadas - e estas constituem
sílabas métricas: cru/ el ; vô/ o.


Classificação do verso quanto ao número de sílabas:
• monossílabos               • dissílabos        • trissílabos    • tetrassílabos
• pentassílabos (ou redondilha menor/medida velha)
• hexassílabos (heroico quebrado)
• heptassílabos (redondilha maior/medida velha)
• octossílabos               • eneassílabos      • decassílabos (medida nova)
• hendecassílabos            • dodecassílabos (ou alexandrinos)
Além de 12 sílabas métricas, temos versos bárbaros.

QUANTO À DISPOSIÇÃO DAS RIMAS NA ESTROFE/ESTÂNCIA, TEMOS:

Emparelhadas ou paralelas- AABB

Rima intercaladas, opostas ou interpoladas - ABBA

Rima cruzadas, entrecruzadas ou alternadas - ABAB

Rima misturadas – ABCBA

Rimas encadeadas: rima o final do verso com o interior do verso seguinte.
Ex.:   Quanto, ó Ninfa, é venturosa
       Essa rosa delicada!
       Invejada no teu peito,
       Satisfeito a vê o Amor.


QUANTO AO SEU VALOR/QUALIDADE:

Rima rica - as palavras que rimam são de diferentes classes gramaticais:

Ex.: atento/ pensamento (adjetivo e substantivo)




Rima pobre - as palavras que rimam pertencem à mesma classe gramatical:

Ex.: fazer/ dever (verbo e verbo);        canto/pranto. (Subst. e substantivo)

Porém, se num terceiro verso se acrescentar uma rima de outra classe

gramatical, o conjunto das rimas se torna rico: canto/ pranto/ tanto.




Rima preciosa — extirpe/ estirpe; há-de/ saudade; estrela/ vê-la.


QUANTO À TONICIDADE OS VERSOS PODEM SER:

a) agudos/masculinos, terminados em palavra oxítona (em que a sílaba tônica
é a última). Exemplo: "seria uma rima, não seria uma solução." (Drummond)
b) graves/femininos, terminados em palavra paroxítona (em que a sílaba
tônica é a penúltima).
Exemplo: "Aonde viessem pousar os passarinhos!" (Mário Quintana)
O verso grave é o mais comum na língua portuguesa, uma vez que a maioria das
palavras do nosso vernáculo é paroxítona.
c) esdrúxulos, terminados em palavra proparoxítona (em que a sílaba tônica é a
antepenúltima). Exemplo: "Vou-me embora pra Pasárgada" (Manuel Bandeira)



FORMA ESPECIAL DE RIMA -

Aliteração - consoantes de som idêntico que se repetem:

Rara, rubra, risonha, regia rosa. (Felix Pacheco)
Assonância - vogais que se repetem: É um pássaro, é uma rosa, É o mar que

me acorda? (Eugênio de Andrade)

ESCANSÃO/EXEMPLO

Es / tou / te / es / pe / RAN / do – 6 (Sílabas. Gramaticais)


Es / tou / te-es / pe / RAN / do – 5 (Sílabas poéticas.)


 Mesmo número de sílabas métricas/poéticas = versos regulares/tradicionais.

 Número diferente de sílabas métricas/poéticas = versos irregulares ou livres.

 Quando não ocorre rima entre os versos de um poema, diz-se que são brancos.
QUANTO À QUANTIDADE DE VERSOS FORMADORES NA ESTROFE, TEMOS:



1)     Estrofe de Verso Único ou Monóstico.
2)    Estrofe Dístico – Estrofe com dois versos.
3)    Estrofe Terceto – Contendo três versos.
4)    Estrofe Quadra/quarteto – Possui quatro versos.
5)    Estrofe Quintilha – Possui cinco versos.
6)    Estrofe Sextilha – Contendo seis versos.
7)    Estrofe Sétima – Estrofe com sete versos.
8)    Estrofe Oitava – Contém oito versos.
9)    Estrofe Nona – É feita com nove versos.
10)   Estrofe Décima – Contendo dez versos.
11)   Estrofe Livre ou Estrofe Polimétrica – Estrofe que apresenta mais de 10
versos. Estrofe irregular.


FORMAS FIXAS:
    Soneto: poema formado por dois quartetos e dois tercetos, geralmente
      composto por versos decassílabos e de conteúdo lírico;
      Balada: poema formado por três oitavas e uma quadra;
      Rondel: poema formado por duas quadras e uma quintilha;
      Rondó: poema com estrofação uniforme de quadras;
      Sextina: poema formado por seis sextilhas e um terceto;
      Indriso: poema formado por dois tercetos e dois monóstico.
      Trova: poema monostrófico de quatro versos heptassilábicos.
      Haicai: poema monostrófico com três versos: dois pentassilábicos e um
      heptassilábico (o segundo).
ANÁLISE DO POEMA (ESTRUTURA E CONTEÚDO)


MOTIVO (Cecília Meireles)




Eu canto porque o instante existe      Se desmorono ou se edifico,

e a minha vida está completa.          se permaneço ou me desfaço,

Não sou alegre nem sou triste:         - não sei, não sei. Não sei se fico

sou poeta.                             ou passo.


Irmão das coisas fugidias,             Sei /que/ can/to. E a /can/ção/ é /tu/(do).

não sinto gozo nem tormento.           Tem/ san/gue e/ter/no a a/as/ rit/ma/(da).

Atravesso noites e dias                E um/ di/a/ sei /que es/ta/rei/ mu/(do):

no vento.                              - mais/ na/(da).

   A estrutura do poema mostra que cada estrofe possui 3 primeiros versos
com 8 sílabas e o final com duas. Isso acontece em todas elas. Assim:

      (1)    Eu /can/to/ por/que-o-ins/tan/te-e/xis/te – 8 A

      (2)    e-a/ mi/nha/ vi/da-es/tá/ com/ple/ta. – 8 B

      (3)    Não/ sou/ a/le/gre/ nem/ sou/ tris/te: – 8 A

      (4)    sou/ poe/ta. – 2 B

     A estrofe é irregular, pois há número diferente de sílabas
poéticas no último verso.
     Oito sílabas métricas = denominado verso octossílabo.
     Quanto à disposição das rimas (ABAB), são denominadas
cruzadas.
     A= Rica (verbo+adjetivo) e feminina/grave (paroxítona).
     B= Rica (adjetivo +substantivo) e feminina/grave
(paroxítona).
     Verso irregular o quarto e regulares os três primeiros. Temos
um quarteto.
ANÁLISE DO POEMA (conteúdo e estrutura)



       Logo que iniciamos a leitura do poema, notamos que é todo elaborado
em primeira pessoa, trata-se do ―eu‖ lírico, que se refere à subjetividade, ao
íntimo, à descrição dos sentimentos. Observemos este exemplo.
Eu canto porque o instante existe

E a minha vida está completa

       Notamos também a presença de vários predicativos do sujeito,
referindo-se à subjetividade do ―eu‖ lírico. Exemplificando:
Não sou alegre nem sou triste:

Sou poeta.

       No poema, como um todo, percebemos logo de início algumas das
principais características da poesia de Cecília Meireles, tais como leveza e a
delicadeza com que tematiza a passagem do tempo, a transitoriedade da
vida e a fugacidade dos objetos, que parecem intocáveis em seus poemas, com
uma linguagem altamente feminina, intuitiva e sensorial, decorrendo assim,
um certo tom melancólico dos mesmos.

Exemplo:

Irmão de coisas fugidias

Atravesso noites e dias no vento



      No último terceto do soneto, primeiro verso, há aliteração, o que sugere o
ritmo da batida do coração, quando eterniza a música, a canção, enquanto a
assonância da vogal /a/ sugere um sentimento de alegria do ―eu‖ lírico.

       Na primeira estrofe, o ―eu‖ lírico dá importância ao tempo presente, à
criação do seu poema. Afirma que o poeta declara os sentimentos para as
pessoas, mas o poeta é imparcial.

       No terceiro verso desta estrofe há uma antítese entre “alegre” X
“triste”.

       O ―eu‖ lírico se contenta em ser apenas poeta, como afirma no quarto
verso deste quarteto, apesar de a sua existência ser triste.

      Outra ocorrência importante e recorrente na obra de Cecília é o uso dos
verbos ―existir‖ e ―ser‖, que sugerindo o tom existencialista de Cecília
Meireles.
       Na segunda estrofe, chama a atenção ao valor que se dá às coisas
passageiras, para que não nos prendamos a elas, pois passam como o
vento. Deve -se agir como o poeta, que é livre, como o vento. Logo, não
sente ―gozo‖ nem ―tormento‖.
      Em seu primeiro verso há assonância dos fonemas /a/, /i/, /o/ e a
presença do fonema /s/, ocorrendo uma aliteração, que lembra a passagem do
tempo, de forma rápida, com um vento, como diz o ―eu‖ lírico.
Na terceira estrofe, percebemos um conflito interior, uma dúvida do ―eu‖
lírico, que não sabe qual decisão tomar: a de parar ou a de continuar. A
dúvida com relação a sua existência permanece na repetição da expressão ―Não
sei‖. Ocorre uma antítese entre as formas verbais ―fico‖ (terceiro verso) e
―passo‖ (quarto verso), pois a transitoriedade da vida mais uma vez é
questionada. As formas “fico” (terceiro verso) e “edifico” (primeiro verso)
estão rimando e nós podemos pensar que, enquanto vivemos, edificamos algo
na terra, de ordem espiritual ou material, mas quando ―passamos‖, tudo se
desfaz, como observamos na rima que acontece no segundo e no quarto versos.
       Na quarta estrofe, o ―eu‖ lírico reafirma a importância dada ao
presente, ao tempo do ―agora‖, inicia- do na primeira estrofe, pois o poeta
continua a cantar e diz que a canção é tudo, assim como o poema, porque
são eternizados com o passar do tempo, assim como o voo ritmado das asas
dos pássaros (comparação), enquanto que ele e nós somos finitos - um dia,
ficaremos mudos e não seremos mais nada. A música, que muitos consideram
desnecessária, será e é eterna, como o espírito.

       Esse poema é todo elaborado em antíteses, o que se pode observar
em: ―alegre‖ # ―triste‖; ―noite‖ # ―dia‖; ―desmorono‖ # ―edifico‖; ―permaneço‖ #
―defaço‖; ―fico‖ # ―passo‖.

       Percebemos, então, que o poema é uma metáfora que representa a
fugacidade da vida e como as pessoas a deixam passar, sem dar o real
valor ao que realmente importa, também notamos a existência de um eufemismo
nos terceiro e quarto versos da última estrofe, pois se evita a palavra morte,
substituindo-a por uma expressão menos desagradável.

Vejamos:

E um dia sei que estarei mudo:

- Mais nada.



       No segundo verso da quarta estrofe, aparece o hipérbato, que resulta
da inversão na ordem natural das palavras relacionadas entre si, realçando a
eternidade do espírito.

Analisemos:

Tem sangue eterno a asa ritmada



       Na primeira estrofe, há a rima do primeiro e terceiro versos e do segundo
e do quarto versos (cruzadas). Na segunda estrofe ocorre o mesmo esquema:
primeiro e terceiro versos e segundo e quarto versos. Na terceira estrofe:
primeiro e terceiro versos. Na quarta estrofe: primeiro e terceiro versos e do
segundo e quarto versos.

        Observamos, também, a existência da rima rica, ou seja, rimas entre
palavras de classes gramaticais diferentes, na primeira estrofe, o primeiro e
terceiro versos e segundo e quarto versos. Também, na segunda estrofe, o
primeiro e terceiro versos. No restante do poema, constata-se a presença da
rima pobre, isto é, rimas com palavras de classes gramaticais semelhantes.
Notamos a existência do cavalgamento em duas partes do poema, ou
seja, o sentido de um verso é interrompido no final do mesmo e vai completar-se
no próximo:
Não sou poeta nem sou triste:

Sou poeta.

Atravesso noites e dias

no vento.
Se permaneço ou me desfaço

- Não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

E um dia sei que estarei mudo:

- mais nada.



       Ocorre a crase, ou seja, a fusão de sons semelhantes em:

Eu canto porque o instante existe

Se desmorono ou se edifico,

se permaneço ou me desfaço

Tem sangue eterno a asa ritmada.

E uma dia sei que estarei mudo:



O título Motivo pode significar uma esperança que o ―eu‖ lírico sente para poder
continuar vivendo, apesar de conscientemente saber que ela, a vida, é uma
passagem para um outro plano desconhecido.




EXERCÍCIO DE ESCANSÃO E CLASSIFICAÇÃO DE RIMAS

Escansão: Contagem de sílabas poéticas. Possui duas regras:
1. Contam-se as sílabas até a última sílaba tônica do verso.

2. No encontro entre vogais pode ocorrer crase ou ditongação.

Rimas:    podem      ser      classificadas   quanto     à    disposição,     quanto     à
acentuação/tonicidade e quanto à classe gramatical (qualidade).


Exercício: faça a escansão de todos os poemas abaixo e classifique as rimas (de
acordo com a disposição, acentuação e classe gramatical dos poemas (qualidade)
1, 2, 5, 7, 9, 10, 11 e 12.




1. Gregório de Matos
Discreta e formosíssima Maria                        2. Fernando Pessoa
Enquanto estamos vendo                               O poeta é um fingidor
claramente                                           Finge tão completamente
Na vossa ardente vista o sol                         Que chega a fingir que é dor
ardente                                              A dor que deveras sente.
E na rosada face a Aurora fria.                      Rimas:_____________________
Rimas:_____________________
3. Gonçalves Dias                             4. Construção (Chico Buarque)
Esta noite – era a lua já morta -
Anhangá me vedava sonhar;                     Amou daquela vez como se fosse a última
Eis na horrível caverna, que                  Beijou sua mulher como se fosse a última

habito,                                       E cada filho seu como se fosse o único

Rouca voz começou-me a                        E atravessou a rua com seu passo tímido
                                              Subiu a construção como se fosse máquina
chamar.
                                              Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
                                              Tijolo com tijolo num desenho mágico.
Rimas:_____________________



                                                     Rimas: ____________________




5. Luís Vaz de Camões
Mas um velho de aspecto venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
  Postos em nós os olhos, meneando
  Três vezes a cabeça, descontente,
  A voz pesada um pouco alevantando
  Que nós no mar ouvimos claramente
  C’um saber só de experiências feito,
  Tais palavras tirou do esperto peito:   Rimas:__________________________


  6. Carlos Drummond de Andrade
  Com a chave na mão                                  7.      Sílvia Araújo Mota
  Quer abrir a porta,
  Não existe porta;
                                                      Amadurecimento?
  Quer morrer no mar,
                                                      Da lei, a aplicação?
  Mas o mar secou;                                    Riqueza, crescimento?
  Quer ir para Minas,                                 Progresso da Nação?
  Minas não há mais,
  José, e agora.
                                                 Rimas:_____________________
  Rimas:____________________

  8. João Cabral de Melo Neto             9. Gonçalves Dias
  Um ferrageiro de Carmona,               Já silva, já ruge do vento o pegão;

  que me informava de um balcão:          Estorcem-se os leques dos verdes palmares,
                                          Volteiam, rebramam, doudejam nos ares,
  “Aquilo? É de ferro fundido,
                                          Até que lascados baqueiam no chão.
  foi a forma que fez, não a mão.


                                          Rimas:________________________
  Rimas:_______________________


 10. Alberto de Oliveira                     ―Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
 Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,            Perdeste o senso!‖ E eu vos direi, no
 Casualmente, uma vez, de um perfumado       entanto,
 Contador sobre o mármor luzidio,            Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto
 Entre um leque e o começo de um bordado. E abro as janelas, pálido de espanto…
  Rimas:________________________             Rimas:________________________


11. Olavo Bilac
 12.     Augusto dos Anjos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!
Rimas:____________________________________________________

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Metro, Ritmo e Rima: Uma Análise da Estrutura Poética

  • 1. Metro, Ritmo e Rima • Metro: é o nome que se dá à extensão da linha poética. Pela contagem de sílabas de um verso, podemos estabelecer seu padrão métrico e suas unidades rítmicas. • Escansão é a contagem das sílabas de um verso. A seguir, as regrinhas para se escandir versos: 1) Na contagem das sílabas métricas, contamos até a última sílaba tônica e desprezamos a sílaba ou sílabas átonas finais. Diante disso, ao encontrarmos um vocábulo paroxítono não contamos a última sílaba (en/ con/ tro). Nas proparoxítonas, desprezamos, para efeito de contagem, as duas últimas sílabas (cá/ lido). 2) Quando houver encontro de vogais (vogal no fim de uma palavra e outra vogal no início do vocábulo seguinte), formando um ditongo, conta-se apenas uma sílaba métrica: 3) Ditongos crescentes forma uma única sílaba métrica: ma/ li/ cia; tê/ nue. 4) Os hiatos permanecem com suas vogais separadas - e estas constituem sílabas métricas: cru/ el ; vô/ o. Classificação do verso quanto ao número de sílabas: • monossílabos • dissílabos • trissílabos • tetrassílabos • pentassílabos (ou redondilha menor/medida velha) • hexassílabos (heroico quebrado) • heptassílabos (redondilha maior/medida velha) • octossílabos • eneassílabos • decassílabos (medida nova) • hendecassílabos • dodecassílabos (ou alexandrinos) Além de 12 sílabas métricas, temos versos bárbaros. QUANTO À DISPOSIÇÃO DAS RIMAS NA ESTROFE/ESTÂNCIA, TEMOS: Emparelhadas ou paralelas- AABB Rima intercaladas, opostas ou interpoladas - ABBA Rima cruzadas, entrecruzadas ou alternadas - ABAB Rima misturadas – ABCBA Rimas encadeadas: rima o final do verso com o interior do verso seguinte.
  • 2. Ex.: Quanto, ó Ninfa, é venturosa Essa rosa delicada! Invejada no teu peito, Satisfeito a vê o Amor. QUANTO AO SEU VALOR/QUALIDADE: Rima rica - as palavras que rimam são de diferentes classes gramaticais: Ex.: atento/ pensamento (adjetivo e substantivo) Rima pobre - as palavras que rimam pertencem à mesma classe gramatical: Ex.: fazer/ dever (verbo e verbo); canto/pranto. (Subst. e substantivo) Porém, se num terceiro verso se acrescentar uma rima de outra classe gramatical, o conjunto das rimas se torna rico: canto/ pranto/ tanto. Rima preciosa — extirpe/ estirpe; há-de/ saudade; estrela/ vê-la. QUANTO À TONICIDADE OS VERSOS PODEM SER: a) agudos/masculinos, terminados em palavra oxítona (em que a sílaba tônica é a última). Exemplo: "seria uma rima, não seria uma solução." (Drummond) b) graves/femininos, terminados em palavra paroxítona (em que a sílaba tônica é a penúltima). Exemplo: "Aonde viessem pousar os passarinhos!" (Mário Quintana) O verso grave é o mais comum na língua portuguesa, uma vez que a maioria das palavras do nosso vernáculo é paroxítona. c) esdrúxulos, terminados em palavra proparoxítona (em que a sílaba tônica é a antepenúltima). Exemplo: "Vou-me embora pra Pasárgada" (Manuel Bandeira) FORMA ESPECIAL DE RIMA - Aliteração - consoantes de som idêntico que se repetem: Rara, rubra, risonha, regia rosa. (Felix Pacheco)
  • 3. Assonância - vogais que se repetem: É um pássaro, é uma rosa, É o mar que me acorda? (Eugênio de Andrade) ESCANSÃO/EXEMPLO Es / tou / te / es / pe / RAN / do – 6 (Sílabas. Gramaticais) Es / tou / te-es / pe / RAN / do – 5 (Sílabas poéticas.) Mesmo número de sílabas métricas/poéticas = versos regulares/tradicionais. Número diferente de sílabas métricas/poéticas = versos irregulares ou livres. Quando não ocorre rima entre os versos de um poema, diz-se que são brancos. QUANTO À QUANTIDADE DE VERSOS FORMADORES NA ESTROFE, TEMOS: 1) Estrofe de Verso Único ou Monóstico. 2) Estrofe Dístico – Estrofe com dois versos. 3) Estrofe Terceto – Contendo três versos. 4) Estrofe Quadra/quarteto – Possui quatro versos. 5) Estrofe Quintilha – Possui cinco versos. 6) Estrofe Sextilha – Contendo seis versos. 7) Estrofe Sétima – Estrofe com sete versos. 8) Estrofe Oitava – Contém oito versos. 9) Estrofe Nona – É feita com nove versos. 10) Estrofe Décima – Contendo dez versos. 11) Estrofe Livre ou Estrofe Polimétrica – Estrofe que apresenta mais de 10 versos. Estrofe irregular. FORMAS FIXAS: Soneto: poema formado por dois quartetos e dois tercetos, geralmente composto por versos decassílabos e de conteúdo lírico; Balada: poema formado por três oitavas e uma quadra; Rondel: poema formado por duas quadras e uma quintilha; Rondó: poema com estrofação uniforme de quadras; Sextina: poema formado por seis sextilhas e um terceto; Indriso: poema formado por dois tercetos e dois monóstico. Trova: poema monostrófico de quatro versos heptassilábicos. Haicai: poema monostrófico com três versos: dois pentassilábicos e um heptassilábico (o segundo).
  • 4. ANÁLISE DO POEMA (ESTRUTURA E CONTEÚDO) MOTIVO (Cecília Meireles) Eu canto porque o instante existe Se desmorono ou se edifico, e a minha vida está completa. se permaneço ou me desfaço, Não sou alegre nem sou triste: - não sei, não sei. Não sei se fico sou poeta. ou passo. Irmão das coisas fugidias, Sei /que/ can/to. E a /can/ção/ é /tu/(do). não sinto gozo nem tormento. Tem/ san/gue e/ter/no a a/as/ rit/ma/(da). Atravesso noites e dias E um/ di/a/ sei /que es/ta/rei/ mu/(do): no vento. - mais/ na/(da).  A estrutura do poema mostra que cada estrofe possui 3 primeiros versos com 8 sílabas e o final com duas. Isso acontece em todas elas. Assim: (1) Eu /can/to/ por/que-o-ins/tan/te-e/xis/te – 8 A (2) e-a/ mi/nha/ vi/da-es/tá/ com/ple/ta. – 8 B (3) Não/ sou/ a/le/gre/ nem/ sou/ tris/te: – 8 A (4) sou/ poe/ta. – 2 B  A estrofe é irregular, pois há número diferente de sílabas poéticas no último verso.  Oito sílabas métricas = denominado verso octossílabo.  Quanto à disposição das rimas (ABAB), são denominadas cruzadas.  A= Rica (verbo+adjetivo) e feminina/grave (paroxítona).  B= Rica (adjetivo +substantivo) e feminina/grave (paroxítona).  Verso irregular o quarto e regulares os três primeiros. Temos um quarteto.
  • 5. ANÁLISE DO POEMA (conteúdo e estrutura) Logo que iniciamos a leitura do poema, notamos que é todo elaborado em primeira pessoa, trata-se do ―eu‖ lírico, que se refere à subjetividade, ao íntimo, à descrição dos sentimentos. Observemos este exemplo. Eu canto porque o instante existe E a minha vida está completa Notamos também a presença de vários predicativos do sujeito, referindo-se à subjetividade do ―eu‖ lírico. Exemplificando: Não sou alegre nem sou triste: Sou poeta. No poema, como um todo, percebemos logo de início algumas das principais características da poesia de Cecília Meireles, tais como leveza e a delicadeza com que tematiza a passagem do tempo, a transitoriedade da vida e a fugacidade dos objetos, que parecem intocáveis em seus poemas, com uma linguagem altamente feminina, intuitiva e sensorial, decorrendo assim, um certo tom melancólico dos mesmos. Exemplo: Irmão de coisas fugidias Atravesso noites e dias no vento No último terceto do soneto, primeiro verso, há aliteração, o que sugere o ritmo da batida do coração, quando eterniza a música, a canção, enquanto a assonância da vogal /a/ sugere um sentimento de alegria do ―eu‖ lírico. Na primeira estrofe, o ―eu‖ lírico dá importância ao tempo presente, à criação do seu poema. Afirma que o poeta declara os sentimentos para as pessoas, mas o poeta é imparcial. No terceiro verso desta estrofe há uma antítese entre “alegre” X “triste”. O ―eu‖ lírico se contenta em ser apenas poeta, como afirma no quarto verso deste quarteto, apesar de a sua existência ser triste. Outra ocorrência importante e recorrente na obra de Cecília é o uso dos verbos ―existir‖ e ―ser‖, que sugerindo o tom existencialista de Cecília Meireles. Na segunda estrofe, chama a atenção ao valor que se dá às coisas passageiras, para que não nos prendamos a elas, pois passam como o vento. Deve -se agir como o poeta, que é livre, como o vento. Logo, não sente ―gozo‖ nem ―tormento‖. Em seu primeiro verso há assonância dos fonemas /a/, /i/, /o/ e a presença do fonema /s/, ocorrendo uma aliteração, que lembra a passagem do tempo, de forma rápida, com um vento, como diz o ―eu‖ lírico.
  • 6. Na terceira estrofe, percebemos um conflito interior, uma dúvida do ―eu‖ lírico, que não sabe qual decisão tomar: a de parar ou a de continuar. A dúvida com relação a sua existência permanece na repetição da expressão ―Não sei‖. Ocorre uma antítese entre as formas verbais ―fico‖ (terceiro verso) e ―passo‖ (quarto verso), pois a transitoriedade da vida mais uma vez é questionada. As formas “fico” (terceiro verso) e “edifico” (primeiro verso) estão rimando e nós podemos pensar que, enquanto vivemos, edificamos algo na terra, de ordem espiritual ou material, mas quando ―passamos‖, tudo se desfaz, como observamos na rima que acontece no segundo e no quarto versos. Na quarta estrofe, o ―eu‖ lírico reafirma a importância dada ao presente, ao tempo do ―agora‖, inicia- do na primeira estrofe, pois o poeta continua a cantar e diz que a canção é tudo, assim como o poema, porque são eternizados com o passar do tempo, assim como o voo ritmado das asas dos pássaros (comparação), enquanto que ele e nós somos finitos - um dia, ficaremos mudos e não seremos mais nada. A música, que muitos consideram desnecessária, será e é eterna, como o espírito. Esse poema é todo elaborado em antíteses, o que se pode observar em: ―alegre‖ # ―triste‖; ―noite‖ # ―dia‖; ―desmorono‖ # ―edifico‖; ―permaneço‖ # ―defaço‖; ―fico‖ # ―passo‖. Percebemos, então, que o poema é uma metáfora que representa a fugacidade da vida e como as pessoas a deixam passar, sem dar o real valor ao que realmente importa, também notamos a existência de um eufemismo nos terceiro e quarto versos da última estrofe, pois se evita a palavra morte, substituindo-a por uma expressão menos desagradável. Vejamos: E um dia sei que estarei mudo: - Mais nada. No segundo verso da quarta estrofe, aparece o hipérbato, que resulta da inversão na ordem natural das palavras relacionadas entre si, realçando a eternidade do espírito. Analisemos: Tem sangue eterno a asa ritmada Na primeira estrofe, há a rima do primeiro e terceiro versos e do segundo e do quarto versos (cruzadas). Na segunda estrofe ocorre o mesmo esquema: primeiro e terceiro versos e segundo e quarto versos. Na terceira estrofe: primeiro e terceiro versos. Na quarta estrofe: primeiro e terceiro versos e do segundo e quarto versos. Observamos, também, a existência da rima rica, ou seja, rimas entre palavras de classes gramaticais diferentes, na primeira estrofe, o primeiro e terceiro versos e segundo e quarto versos. Também, na segunda estrofe, o primeiro e terceiro versos. No restante do poema, constata-se a presença da rima pobre, isto é, rimas com palavras de classes gramaticais semelhantes.
  • 7. Notamos a existência do cavalgamento em duas partes do poema, ou seja, o sentido de um verso é interrompido no final do mesmo e vai completar-se no próximo: Não sou poeta nem sou triste: Sou poeta. Atravesso noites e dias no vento. Se permaneço ou me desfaço - Não sei, não sei. Não sei se fico ou passo. E um dia sei que estarei mudo: - mais nada. Ocorre a crase, ou seja, a fusão de sons semelhantes em: Eu canto porque o instante existe Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço Tem sangue eterno a asa ritmada. E uma dia sei que estarei mudo: O título Motivo pode significar uma esperança que o ―eu‖ lírico sente para poder continuar vivendo, apesar de conscientemente saber que ela, a vida, é uma passagem para um outro plano desconhecido. EXERCÍCIO DE ESCANSÃO E CLASSIFICAÇÃO DE RIMAS Escansão: Contagem de sílabas poéticas. Possui duas regras:
  • 8. 1. Contam-se as sílabas até a última sílaba tônica do verso. 2. No encontro entre vogais pode ocorrer crase ou ditongação. Rimas: podem ser classificadas quanto à disposição, quanto à acentuação/tonicidade e quanto à classe gramatical (qualidade). Exercício: faça a escansão de todos os poemas abaixo e classifique as rimas (de acordo com a disposição, acentuação e classe gramatical dos poemas (qualidade) 1, 2, 5, 7, 9, 10, 11 e 12. 1. Gregório de Matos Discreta e formosíssima Maria 2. Fernando Pessoa Enquanto estamos vendo O poeta é um fingidor claramente Finge tão completamente Na vossa ardente vista o sol Que chega a fingir que é dor ardente A dor que deveras sente. E na rosada face a Aurora fria. Rimas:_____________________ Rimas:_____________________ 3. Gonçalves Dias 4. Construção (Chico Buarque) Esta noite – era a lua já morta - Anhangá me vedava sonhar; Amou daquela vez como se fosse a última Eis na horrível caverna, que Beijou sua mulher como se fosse a última habito, E cada filho seu como se fosse o único Rouca voz começou-me a E atravessou a rua com seu passo tímido Subiu a construção como se fosse máquina chamar. Ergueu no patamar quatro paredes sólidas Tijolo com tijolo num desenho mágico. Rimas:_____________________ Rimas: ____________________ 5. Luís Vaz de Camões Mas um velho de aspecto venerando,
  • 9. Que ficava nas praias, entre a gente, Postos em nós os olhos, meneando Três vezes a cabeça, descontente, A voz pesada um pouco alevantando Que nós no mar ouvimos claramente C’um saber só de experiências feito, Tais palavras tirou do esperto peito: Rimas:__________________________ 6. Carlos Drummond de Andrade Com a chave na mão 7. Sílvia Araújo Mota Quer abrir a porta, Não existe porta; Amadurecimento? Quer morrer no mar, Da lei, a aplicação? Mas o mar secou; Riqueza, crescimento? Quer ir para Minas, Progresso da Nação? Minas não há mais, José, e agora. Rimas:_____________________ Rimas:____________________ 8. João Cabral de Melo Neto 9. Gonçalves Dias Um ferrageiro de Carmona, Já silva, já ruge do vento o pegão; que me informava de um balcão: Estorcem-se os leques dos verdes palmares, Volteiam, rebramam, doudejam nos ares, “Aquilo? É de ferro fundido, Até que lascados baqueiam no chão. foi a forma que fez, não a mão. Rimas:________________________ Rimas:_______________________ 10. Alberto de Oliveira ―Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Estranho mimo aquele vaso! Vi-o, Perdeste o senso!‖ E eu vos direi, no Casualmente, uma vez, de um perfumado entanto, Contador sobre o mármor luzidio, Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto Entre um leque e o começo de um bordado. E abro as janelas, pálido de espanto… Rimas:________________________ Rimas:________________________ 11. Olavo Bilac 12. Augusto dos Anjos
  • 10. Vês! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera. Somente a Ingratidão – esta pantera – Foi tua companheira inseparável! Rimas:____________________________________________________