O documento discute a marca da Besta do Apocalipse, que obrigava todos a se prostrarem diante da imagem da Besta sob pena de morte. A marca era o nome da Besta ou o número 666 em sua mão direita ou testa, sem a qual ninguém podia comprar ou vender. Isto simbolizava o controle total do Império Romano sobre as pessoas na época.
2. QUEM PODE SALVAR-SE?
• Uma pergunta sem resposta
• Um curioso, como ouvira que Jesus trazia a salvação, fez uma
pergunta:
“Senhor, são poucos os que se salvarão?”
• Jesus, porém, negou-se a responder e simplesmente lhe
replicou:
“Esforçai-vos por entrar pela porta estreita” (Lc 13,22-24).
• Isto é, em vez de responder-lhe quantos se salvarão,
explicou-lhe como se salvarão, o que era mais importante.
3. • Ap 7,4
“Ouvi então o número dos que tinham sido marcados: cento
e quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos de
Israel.”
• Ap 14,1
“Tive depois esta visão; eis que o Cordeiro estava de pé sobre
o monte Sião com os cento e quarenta e quatro mil que
traziam escrito na fronte o nome dele e o nome de seu Pai.”
É VERDADE QUE SÓ CENTO E QUARENTA E QUATRO
MIL SE SALVARÃO?
4. • E quantos são esses novos libertados pelo Cristo? Ele o diz
com um novo número simbólico: 144.000.
• Com efeito, esta cifra é produto de 12x12x1.000.
• Que significado tem esta quantidade? Na Bíblia o número
12, aplicado às pessoas, sempre significa os eleitos. Assim, as
doze tribos eleitas de Israel, os doze apóstolos eleitos, as
doze portas da nova Jerusalém, por onde entrariam os
eleitos (Ap 21,22).
• Portanto, afirmar que se salvarão cento e quarenta e quatro
mil equivale a dizer que se salvarão os eleitos do Antigo
Testamento (12) e os eleitos do Novo Testamento (x 12), em
uma grande quantidade (x 1.000).
5. • Que os salvos integram este grupo inumerável podemos ver
por três elementos:
• a) têm as vestes brancas, que no Apocalipse sempre
simbolizam a salvação;
• b) têm palmas em suas mãos, que é o atributo dos
vencedores;
• c) já estão todos diante de Deus e do Cordeiro.
• “Foram resgatados dentre os homens, como primícias para
Deus e para o Cordeiro” (Ap 14,4).
• E se os chama de “primícias” é porque são os primeiros a
serem salvos e que ainda faltam muitos para vir. Isto é, não
pretende dar um número exato.
6. QUANDO SE HÃO DE CUMPRIR
AS PROFECIAS DO APOCALIPSE?
• As profecias que o Apocalipse anuncia para o fim dos tempos
são assustadoras.
• Perseguições sangrentas contra os cristãos; uma Besta feroz
com sete cabeças e dez chifres que atacará os que creem;
uma invasão de gafanhotos gigantescos com cauda de
escorpião e dentes de leão; sangue e fogo que cairão sobre a
terra a fim de destruir a terça parte da humanidade; um
enorme Dragão que procurará devorar os fiéis a Jesus Cristo;
e como se isso não bastasse, terremotos, ausência da luz do
sol, queda das estrelas, pestes, guerras, fome, morte e
violências sem-número.
7. • Com essas perspectivas é lógico que os cristãos querem
saber quando acontecerão essas calamidades. Por isso se
tentou muitas vezes, ao longo da história, marcar a data
desses acontecimentos. Mas todas as tentativas
fracassaram.
• Não obstante, de vez em quando continua aparecendo
algum iluminado ou fundador de seita, ou vidente que
garante que já estamos vivendo os últimos tempos. Isso é
certo? Podemos saber quando acontecerão os anúncios do
Apocalipse? Parece que sim.
8. QUEM É A BESTA DO APOCALIPSE?
• Os símbolos têm, com frequência, um sentido estabelecido e
muitas vezes o contexto do livro e as indicações do autor são
o melhor meio para descobrir seu significado.
• Com a Besta do Apocalipse aconteceu a mesma coisa que com
o Anticristo: identificaram-na com tantas pessoas,
movimentos e ideologias, desde o imperador Nero até Hitler,
passando por tantos cismáticos e hereges, assim como por
papas da Igreja, que se toma impossível apresentar aqui um
elenco nem mesmo aproximado de todos eles.
• Além do mais, todas estas atribuições são tão gratuitas
quanto fantasiosas.
9. • O correto seria perguntarmos a São João, o autor do livro, a
quem ele se referia, quando falava da Besta.
• É possível encontrar no Apocalipse algum sinal indicador para
não nos equivocarmos e podermos precisar com certeza a
identidade da Besta? Parece que sim.
• Em diversos momentos do livro do Apocalipse aparece a
Besta, assim como a descrição de sua atividade, contrária aos
cristãos e à Igreja de Jesus. Mas dois são os lugares para
podermos decifrar o mistério que ela contém: os capítulos 13
e 17. Nestes dois capítulos o autor traz os dados suficientes
para que o leitor que não conhece o sentido deste símbolo
possa descrevê-lo.
10. POR QUE A BESTA VIVIA NO MAR? Ap 13
• Na época do autor, que papel desempenhava o símbolo do
mar?
• Talvez porque Israel sempre foi um povo de terra firme, longe
da costa mediterrânea durante quase toda sua história por
causa dos filisteus que a tinham conquistado, sempre teve
terror ao mar. Não conhecia seus segredos, não chegou jamais
a dominá-lo e por isso nunca foi um povo do mar.
• A natureza incontrolável e caótica do mar fez com que, pouco
a pouco, ele se convertesse na encarnação das esferas
infernais, hostis a Deus. Por isso, na Bíblia, os inimigos de Deus
saem sempre do mar. Neste caso, que a Besta tenha sua
morada no mar significa que pertence ao mundo do diabólico,
do oposto a Deus.
11. • Mais concretamente, porém, o mar representa aqui o mar
por excelência para os judeus, isto é, o Mediterrâneo, do
outro lado do qual se encontrava a sede do Império
romano.
• Portanto, o inimigo que vem do mar para fazer guerra aos
fiéis não pode ser outro senão Roma que, precisamente na
época em que se escreve o Apocalipse, cerca do ano 90,
sob o reinado do imperador Domiciano, acaba de
deslanchar uma sangrenta perseguição contra os cristãos.
12. UNS TÍTULOS QUE OFENDEM
• João continua contando sua visão e diz que a Besta tinha em
suas cabeças títulos blasfemos, isto é, injuriosos contra Deus.
• Este simbolismo está perfeitamente de acordo com o costume
que os imperadores, primeiramente Nero e depois os outros,
foram assumindo aos poucos, isto é, o de atribuir a si mesmos
títulos próprios de Deus, como divino, filho de Deus, adorável,
salvador, senhor.
• Alguns deles chegaram, inclusive, a fazer-se adorar como tais.
Semelhantes pretensões eram inadmissíveis aos cristãos que
não tinham senão Jesus como Senhor e feriam
profundamente sua sensibilidade.
13. • Mais adiante revela-nos o segredo de que cada uma
das sete cabeças da Besta eram imperadores (cf.
17,9); devemos, portanto, entender que se trata de
um soberano que se acreditava morto, mas que
reviveu.
14. QUE SIGNIFICA O NÚMERO 666? Ap 13,18
• Durante séculos tentou-se descobrir a pessoa que se esconde atrás
deste número. Os cristãos buscavam-na entre os que tinham feito mal
à Igreja.
• A frase encerra-se a descrição da terrível Besta que persegue e mata
os cristãos e de uma segunda que faz uma estátua da primeira para
que todos a adorem.
• João quer oferecer a seus leitores uma ajuda para que descubram o
segredo e compreendam o que está dizendo. E apresenta-lhes uma
espécie de enigma para ser resolvido, que diz: “Aqui se requer
sabedoria. Quem tiver inteligência, calcule o número da Besta, porque
é o número de um homem. Seu número é seiscentos e sessenta e seis”
(Ap 13,18).
• Como vemos, o autor convida os inteligentes a calcular. Portanto, não
se trata de algo que acontecerá no futuro e que então não se
conhecia. Pelo contrário, é algo que se podia calcular com um pouco
de inteligência.
15. A CHAVE É A GEMATRIA
• O texto logo acrescenta que é o número de um homem. O que
é a cifra de um homem?
• Enquanto em nossa língua usamos certos sinais para escrever
as letras (a, b, c) e outros sinais diferentes para escrever os
números (1,2,3), em hebraico e grego os números são as letras
do alfabeto. Assim, para escrever o número 1 usa-se a letra
“a”; para o 2, a letra b, e assim por diante.
• Somando, então, as letras de qualquer nome, obtém-se um
número que é o número do homem.
• Este procedimento chama-se gematria e era muito comum na
antiguidade. A Bíblia, inclusive, a emprega várias vezes.
16. • Se João diz que este número é o número de uma pessoa e
que o inteligente deve calculá-lo, é porque havia alguma
pessoa conhecida dos leitores do Apocalipse, cujo nome
escrito em hebraico ou em grego comportava esta soma.
João, que se encontrava prisioneiro dos romanos quando
escreveu este livro e cuja vida corria perigo, decide advertir
os cristãos de uma maneira velada, que poucos haveriam de
entender, justamente para evitar que a polícia imperial
pudesse fazer represálias contra ele.
• Com toda probabilidade trata-se aqui do imperador Nero,
pois, se escrevemos seu nome em hebraico, o resultado será
o seguinte: N = 50 + R = 200 + W = 6 + N = 50 + Q = 100 + S =
60 + R = 200 = 666. Com as letras indicadas (NRWNQSR)
escreve-se o nome e o título do imperador Nero César.
17. Por que tinha sete cabeças? Ap 17
• Diz que as sete cabeças da Besta são sete colinas (v. 9). Todo
mundo sabe que a cidade de Roma é famosa por ter sido
construída sobre sete colinas; portanto, a identificação da
Besta com o Império é claríssima.
• Logo acrescenta: “São também sete reis. Cinco caíram, um
existe e outro ainda não chegou mas, quando vier,
permanecerá por pouco tempo. A Besta que era, e já não é,
também é um oitavo, que é um dos sete e caminha para a
perdição” (Ap 17,10-11).
• Que significa tudo isso? É muito simples. Se as sete cabeças da
Besta são sete reis, bastará averiguar quem foram os primeiros
imperadores e obter, assim, a chave para resolver o problema.
18. • O texto do Apocalipse diz que os cinco primeiros já
passaram. Foram Augusto, Tibério, Calígula, Cláudio e
Nero. Significa que Nero já havia morrido.
• Agora está o sexto, que é Vespasiano. Logo virá o
sétimo, que durará pouco tempo (Tito que não durou
dois anos). E com este completa-se a lista dos sete.
19. POR QUE O IMPÉRIO É UMA BESTA?
• Conforme nos conta o autor do Apocalipse, a Besta que vê
aparecer em sua visão é uma mistura de leopardo, urso e leão
(cf. 13,2).
• Certamente João não a inventou, e nem tampouco a viu de fato.
Se trata de uma soma dos quatro animais que o profeta Daniel
viu numa aparição, dos quais os três primeiros se assemelhavam
ao leão, ao urso e ao leopardo (cf. Dn 7,1-8).
• E por que João, para referir-se ao Império romano, tomou
justamente este símbolo? Porque a partir do tempo de Cristo o
judaísmo começara a interpretar a quarta besta de Daniel como
figura deste reino, já que o general romano Pompeu havia
invadido Jerusalém, em 64 a.C., ganhando o ódio de todos os
judeus.
20. • João escreve seu Apocalipse num contexto muito especial: o
imperialismo romano, sistema opressor imposto pelo jogo
dos que detinham o poder político, militar e econômico
daquele tempo.
• Nunca existira até o momento um império tão grande, nem
com riquezas tão fabulosas, mas com um sistema tão
perverso que beneficiava as minorias privilegiadas. Havia
começado o culto ao imperador, isto é, ao Estado, como
“Senhor e Deus”.
• E havia começado uma perseguição contra os que não
aceitavam submeter-se aos caprichos e à corrupção da
classe governante, ou seja, contra os cristãos que desejavam
outro estilo de vida.
21. • A resposta que João oferece às suas comunidades é de
esperança: o poder opressor (o Império romano) vai
desaparecer e o poder de Cristo triunfará. Por isso temos
de estar a seu lado. É a mesma mensagem que tem para os
cristãos de hoje, submetidos a tantas injustiças pelo poder
dos mais fortes, dos corruptos.
• Não esperamos nenhuma Besta para o futuro, porque
Bestas sempre existirão.
• São todos os poderes políticos que de alguma forma se
opõem, com suas ideologias, a Deus e aos mais pobres e
fracos.
22. A marca da Besta Ap 13, 15-18
"Foi-lhe dado, também, comunicar espírito à imagem da
Fera, de modo que essa imagem se pusesse a falar e fizesse
com que fosse morto todo aquele que não se prostrasse
diante dela. Conseguiu que todos, pequenos e grandes,
ricos e pobres, livres e escravos, tivessem um sinal na mão
direita e na fronte, e que ninguém pudesse comprar ou
vender, se não fosse marcado com o nome da Fera, ou o
número do seu nome."