Estado de minas 20 de julho de 2011 - capa chico lobo
1. ESTADO DE MINAS ● Q U A R TA - F E I R A , 2 0 D E J U L H O D E 2 0 1 1 ● E D I T O R : J o ã o P a u l o C u n h a ● E D I T O R A - A S S I S T E N T E : Â n g e l a F a r i a ● E - M A I L : c u l t u r a . e m @ u a i . c o m . b r ● T E L E F O N E : ( 3 1 ) 3 2 6 3 - 5 1 2 6
EM
NOEL ROSA
EM DESTAQUE
Gilson Peranzetta
★ e Mauro Senise
gravam DVD e CD
em homenagem
ao poeta da Vila.
PÁGINA 4
ANA LUÍSA MARINHO/DIVULGAÇÃO
MARIA TEREZA CORREIA/EM/D.A PRESS
OUTRA
AILTON MAGIOLI
CARREIRA
TOADA
O pequeno Tomaz, de 7 anos, pe-
Natural de São João del-Rei, Chico
diu o pai de volta ao se deparar Lobo se mudou para Belo Horizonte
com Chico Lobo de cabelos cur- em 1983. Na capital mineira, iniciou
a carreira profissional em 1991.
tos. Depois de passar duas déca-
Lançou sete discos solo. Cantor,
das com longas madeixas, o vio- compositor e instrumentista, ele
leiro resolveu mudar. O público, lembra que, ao chegar a BH, o
grande ícone da viola era Renato
no entanto, não deverá estranhar Andrade, que havia conhecido em
o novo visual do cantor, compo- sua cidade natal, aos 14 anos.
sitor e instrumentista. E muito Ex-integrante do grupo Aruanda
(assumia voz, viola, arranjos e
menos a guinada de Chico em di- direção musical), que considera a
reção aos poetas contemporâ- sua grande escola, Chico acabou
neos em Caipira do mundo, dis- liderando a cena violeira em BH ao
lado de Tavinho Moura e Pereira da
co que ele vai lançar com show, Viola, entre outros.
no Grande Teatro do Palácio das
Artes, em 26 de setembro.
Já à venda nas lojas, o CD am-
plia o contato da música e da vio-
la de Chico com novas frentes na ❚ DISCOGRAFIA
tentativa de romper com a por-
ção caipira. Entretanto, ele dialo- ● Caipira do mundo – 2011. Saravá Discos
ga com letristas nos quais identi- ● Encontro de violas – 2007.
fica certo regionalismo. A pro- Independente (com Pedro Mestre)
posta de Rossana Decelso, em-
presária e produtora de Zeca Ba- ● Vozes de viola, Corais Maximus e
leiro, levou a criação de Chico em Promove cantam Chico Lobo – 2006.
direção a Alice Ruiz (A mais difí- Independente
cil opção), Chico César (Tristeza ● Viola popular brasileira – 2005.
do culto), Ricardo Aleixo (Cantiga Kuarup (também em DVD)
de caminho), Sérgio Natureza ● Os bambas da viola – 2004. Kuarup
(Canto a cântaros), Siba (Pássaro (coletânea)
de rima), Verônica Sabino (No fio
● Paixão e fé na canção brasileira, Chico
da olhar), Arnaldo Antunes (Eu
ando muito cansado), Vander Lee Lobo – Vozes das Gerais – 2003. Kuarup
(Quando falta o coração), Fausto ● Caipiríssimo – Clássicos e joias
Nilo (No fim da rua), Maurício Pe- da música caipira – 2003.
reira (Pra onde que eu tava in- Kuarup (coletânea)
do?), Vítor Ramil (Cantata) e Zeca ● O violeiro e a cantora – 2002.
Baleiro (Morena de Minas). O Independente (com Déa Trancoso)
projeto inclui Samuel Rosa, Lô
● Cantoria brasileira – 2002. Kuarup
Borges e Nando Reis: a canção
(coletânea)
Dois rios foi transformada na vi-
nheta que fecha o disco. ● Viola caipira, tradição, causos e crenças
As mudanças não param por – 2002. Kuarup
aí. O violeiro acaba de gravar ● Palmeira seca – 2001. Karmim
com o clarinetista Paulo Sérgio (com convidados)
Santos e o violoncelista Marcio
● Reinado – 2000. Kuarup
Malard 3 Brasis, o primeiro dis-
co exclusivamente instrumen- ● Nosso coração caipira – 1998. Atração
tal de sua carreira, ainda sem da- Fonográfica (com Jackson Antunes)
ta de lançamento. ● No braço dessa viola – 1996. Kuarup
De cabelos cortados, Chico Lobo confessa: mudar dá pânico
CHICO LOBO BUSCA NOVOS CAMINHOS MUSICAIS NO DISCO CAIPIRA DO MUNDO. ARNALDO ANTUNES, ZECA
BALEIRO, VITOR RAMIL, VANDER LEE, FAUSTO NILO E CHICO CÉSAR ESTÃO ENTRE OS PARCEIROS DO VIOLEIRO
DISTORÇÃO
cidade brasileira. Convidado para cantar com Chico parcerias com Fausto Nilo e Vander Lee. “Fiquei de-
Lobo No fio do olhar, parceria do mineiro com Verô- safiada da mesma maneira. A ideia veio, as palavras
nica Sabino, Zé Geraldo lembra que, por ter o pé no foram se sucedendo e, quando vi, estava pronta.
mato, sempre se identificou com a música do violei- Mandei o primeiro texto, uma prosa que tem a ver
ro. “Chico é um grande instrumentista, estou honra- com Bob Dylan, Zé Ramalho. O incrível foi que ele
A aproximação de Chico Lobo dessa turma toda do pelo convite”, afirma Zé Geraldo. musicou de cara”, elogia Verônica Sabino, feliz pela
de compositores remonta à época do lançamento do Para Chico Lobo, a letra da filha de Fernando Sa- coragem do parceiro em correr riscos. “O disco dele
disco No braço dessa viola, quando ele usou pedais bino, quase prosa, representou um desafio para ele está lindo”, conclui ela.
de distorção em sua viola para tocar Heavy metal do musicar. “Fui para um caminho pelo qual jamais ha- Com o ex-titã Arnaldo Antunes ocorreu algo in-
senhor, de Zeca Baleiro. “Mas o crédito do novo tra- via passado, o da balada”, revela. E fez o mesmo nas teressante, relembra o mineiro. “Ele chegou quando
balho deve ser dado para Rossana Decelso, amiga de já estávamos gravando as guias. O produtor Guilher-
longa data”, diz Chico, lembrando que ela lhe pediu me Kastrup mostrou três músicas, dizendo que
para ouvir algo novo que havia composto. Imedia-
tamente, chegaram a Rossana 25 inéditas, das quais FALA, PARCEIRO eram de um violeiro em busca de novos diálogos. Ar-
naldo é um poeta muito cuidadoso com a palavra.
o autor pretendia tirar 13 para gravar um disco. No estúdio, fomos acertando a sílaba tônica tão ca-
MARCOS HERMES/DIVULGAÇÃO
“Pouco tempo depois, Rossana me liga e faz uma racterística das letras dele”.
provocação. Perguntou se eu aceitaria letras para co- O gaúcho Vitor Ramil pediu a Chico a melodia.
meçar o processo do zero”, revela o violeiro, que ado- “Mandei e ele me enviou a Cantata, o que me levou
ra um desafio. No Rio de Janeiro, apesar do medo, ele a optar pela gravação com viola, viola de arco e acor-
musicou as duas primeiras canções de Caipira do deom”. De Alice Ruiz chegou letra extremamente fi-
mundo, parcerias com Zeca Baleiro e Sérgio Nature- losófica, que o violeiro conseguiu levar para o uni-
za. “Sempre compus intuitivamente, daí o pânico”, verso de seu instrumento.
justifica. Em apenas uma noite ele fez as duas melo- “Foi incrível dar vida às palavras de outras pes-
dias. A partir de então, a empatia com os novos par-
ceiros foi imediata. “Nenhuma canção demorou
Chico é um violeiro soas. Parece até que todos eles já me conheciam”,
elogia Chico. “O Zeca Baleiro foi muito generoso e
mais de duas horas para ficar pronta”, revela. E res-
salta o caráter filosófico de algumas letras, diferen- danado e inquieto, ainda brinca com o Menino da porteira, de Sérgio
Reis, na letra dele”, antecipa, acrescentando que Sér-
temente das que sempre escreveu ou recebeu de ra-
ros parceiros, como Jorge Fernando dos Santos. doido para alçar gio Natureza foi capaz de trazer para o refrão algo
que sempre fez ao retornar de uma viagem: “Bom é
“Chico é um violeiro danado e inquieto, doido pa-
ra alargar os limites de seu instrumento e alçar no- novos voos estéticos voltar para casa”, reconhece.
Com Siba, Chico resgatou a cultura nordestina
vos voos estéticos”, constata Zeca Baleiro, que classi- que admirou na juventude, via Banda de Pau & Cor-
fica de “música brasileira pro mundo ouvir” a nova da (também convidada do disco). Virgínia Rosa e a
incursão do mineiro no mercado fonográfico. cantora portuguesa Suzana Travasso também mar-
“Fiz algo com viés caipira, fui levando a estrofe pa- cam presença em Caipira do mundo, que reúne ins-
ra botar algo mais rural, mas a letra é bem paulista- trumentistas como Paulo Sérgio Santos, Lívio Trag-
na”, comenta Maurício Pereira. Em Pra onde que eu tenberg, Lui Coimbra, Marcelo Jeneci, Tuco Marcon-
tava indo?, ele aborda o corre-corre diário da maior ■ Zeca Baleiro des, Swami Jr. e Rogério Delayon.