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Quando cheguei em Manaus, o rádio era um fenômeno de
comunicação, o veículo que influenciava, que ditava, que ar-
rebatava. Por isso, sempre entendi como fundamental o seu
papel na vida musical de Manaus.
Curioso que sou, a despeito da escassez de fontes, pesquisei
a sua significância, nas décadas de 1950 e 1960, para o estado
do Amazonas e para Manaus.
Poucos amazonenses sabem que foi Ephigênio Salles, o
mesmo que hoje dá nome à conhecida via da capital, quem
deu início a Era do Rádio no Amazonas, isso na segunda me-
tade da década de 1920, quando Manaus ainda padecia com
a perda do monopólio da produção da borracha.
Raros têm conhecimento que as rádios Baré e Difusora pro-
tagonizaram enorme rivalidade. Naquela época, o público
era atraído por atrações locais, como Os Cancioneiros da Lua,
e muitos artistas de renome nacional, que aqui se apresenta-
vam, com destaque para Ivon Cury, Marlene, Cauby Peixoto e
Waldick Soriano.
Em minha pesquisa, descobri episódios nunca dantes reve-
lados, como os ocorridos com Cauby Peixoto e Ary Barroso,
tendo como protagonista a pianista amazonense, Amélia Vi-
tória.
A pesquisa perpassa, ainda, pela Bossa Nova, a influência do
Rock and Roll, a Tropicália e os festivais, até abicar nos clubes
da cidade, no Teatro Amazonas e na televisão.
Enfim, o texto é leve, gostoso, de relevante conteúdo infor-
mativo e rápida leitura. Entre na sintonia da onda radiofôni-
ca, pouco importa que ela seja, curta ou intermediária.
APRESENTAÇÃO
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A VIDA MUSICAL EM MANAUS NAS DÉCADAS DE 1950 E 1960
Publicada em 08 de outubro de 2016.
Ouvir histórias e estórias, casos e causos de Manaus e do Amazonas, exercem so-
bre mim fascínio e curiosidade. Fascínio porque são ricos em particularidades im-
pensáveis hodiernamente; curiosidade porque aguça o meu querer saber mais.
Foi o caso desse tema que, a princípio, se restringiria a abordagem da vida mu-
sical em Manaus na década de 1960, mas à medida que pesquisava, descobria e
ouvia detalhes imprescindíveis ocorridos na década anterior. Assim, concluí que
não poderia abordar 1960 sem 1950.
O resultado eu narro em 12 (doze) capítulos que, para a inteira compreensão da
época, permeia, necessariamente, o cenário nacional. Boa leitura.
Impossível divorciar o papel do rádio, da vida musical de Manaus.
No dia 7 de setembro de 1922, nascia o rádio no Brasil. Naquela data foi transmi-
tida, através de rádio telefonia, a fala do presidente Epitácio Pessoa em home-
nagem a passagem do primeiro centenário da independência do Brasil. No ano
seguinte, em 20 de abril, Edgar Roquette Pinto funda a primeira estação de rádio
no Brasil, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, instituição de caráter basicamen-
te educativo-cultural, cujo funcionamento sobrevivia graças às doações de seus
sócios. Inviabilizada a sua continuidade nos moldes da difusão educativa. A rádio
foi doada ao governo federal e ainda hoje está no ar como Rádio MEC.
Arrebatado com as experiências de Roquette Pinto, Alfredo Mayrink Veiga funda
sua própria rádio, a Rádio Mayrink Veiga, em 21 de janeiro de 1926. Dez anos de-
pois, em 12 de setembro de 1936, nasce a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, emis-
sora pertencente a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), órgão do Governo Fe-
deral, responsável pela administração das emissoras de rádio e TV educativas do
país; a primeira emissora a alcançar praticamente todo o território nacional. A
partir daí o país não seria mais o mesmo.
O rádio determinou o padrão das vozes que chegariam aos lares brasileiros, criou
ídolos, mexeu com o imaginário popular, influenciou a cultura e os costumes da
sociedade nacional. Sua programação diária era feita completamente ao vivo, ex-
ceto os especiais, os comemorativos ou quando, por razões imperiosas, não fosse
possível sua realização ao vivo.
Nas décadas de 1940 e 1950, as transmissões radiofônicas brasileiras ganharam
alcance internacional. Era o tempo das poderosas emissoras de rádio, que man-
tinham enormes estruturas artísticas e administrativas, irradiando seus progra-
mas para todo o país.
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A maior representante desse período é a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, que
por duas décadas ocupou o posto de emissora líder de audiência. A programação
radiofônica tinha humor, informação, dramatização, esporte e música.
Evidente que “antes do rádio havia o disco, mas foi através das ondas radiofônicas
que as antigas bolachas de 78 rotações por minuto, até então ao alcance de pou-
cos, começaram a chegar ao grande público. E ao vivo, pois praticamente todo
artista – dos menos conhecidos aos mais famosos, como Carmen Miranda e o Rei
da Voz, Francisco Alves – divulgava em programas de rádio os sambas, marchas e
valsas que tinha gravado em estúdio”.
O rádio funcionava mais ou menos como hoje funciona o WhatsApp, com seus
compartilhamentos de arquivos de áudios e vídeos virais. Claro que a notorieda-
de não era instantânea, mas logo amadores se transformavam em profissionais;
anônimos em figuras conhecidas; vozes desconhecidas em referencias; persona-
gens regionais em nacionais…
Assim surgiram atores, locutores, músicos, produtores, cantores…
O artista de rádio, ídolo nacional, tinha consciência do papel que representava
para a sociedade.
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A ERA DO RÁDIO NO AMAZONAS
Publicada em 12 de outubro de 2016.
A década de 1950 ficou marcada pela acirrada competição pelo título de “Rainha
do Rádio” que envolveu em disputas memoráveis cantoras como Emilinha Bor-
ba, Marlene e Ângela Maria. Nessa década, os programas de auditório da emis-
sora (Rádio Nacional) tornaram-se tão concorridos que era cobrado ingresso até
para assistir os programas em pé.
Foi Ephigênio Salles (1926/1929), um deslumbrado com as novidades tecnológicas
de comunicação, quem deu início a Era do Rádio no Amazonas. “[…] em abril de
1927, uma rádio Marconi de ondas curtas começa a funcionar num prédio recém-
-inaugurado da empresa AmazonTelegraph. O objetivo principal era difundir no
interior cotações de produtos naturais, horários de barcos e outras informações
de utilidade pública, além de divulgar realizações do Governo. A Voz de Manaós,
como a rádio virá a ser conhecida, enfim inaugura a Era do Rádio no Amazonas”.
Curiosa e coincidentemente isso ocorreu no auge da multiplicação dos recepto-
res artesanais e da crise de fornecimento de energia elétrica na capital.
No início, a rádio funcionava três dias por semana: segundas, quartas e sextas-fei-
ras, entre às 21:00 e 22:00. A existência da Voz de Manaós foi efêmera, sua extinção
deu-se em 1930.
Após um hiato de oito anos, o paulista Lizardo Rodrigues construiu artesanal-
mente um transmissor de 500 watts e deu início às transmissões da Voz da Bari-
céia. O estúdio foi montado de forma provisória nos fundos de sua própria casa.
Ao longo dos anos a Voz experimentou melhorias que mereceram elogios da im-
prensa amazonense. Em 1945, passou a pertencer a cadeia dos Diários e Emisso-
ras Associadas do Brasil, de Assis Chateaubriand, e teve seu nome alterado para
Rádio Baré (PRF6).
Em 24 de novembro de 1948, a Rádio Baré deixou de ser a única emissora de rá-
dio de Manaus, quando a voz de Josué Cláudio de Souza anunciou com emoção:
“Está no ar a Rádio Difusora do Amazonas, estação ZYS-8, a mais poderosa da
planície e a mais querida de Manaus, operando na frequência de 4.805 kilociclos,
ondas intermediárias de 62,40 metros”.
Manaus ainda vivia o intervalo conhecido como “período da cidade em crise”, ini-
ciado na década de 1920, quando a cidade perdeu o monopólio da produção da
borracha para o Oriente, impactando enormemente na forma de vida da cidade
que, segundo alguns historiadores, perdurou até 1967. Mas o sistema capitalista
e o princípio da livre concorrência – consequência da livre iniciativa – permitiram
que as Rádios Baré e Difusora e os cines-teatros, protagonizassem um período
sem par na vida musical de Manaus, uma vez que o rádio era o melhor veículo de
difusão das vozes amazonenses.
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O jornalista Josué Cláudio de Souza, que pertencera a cadeia dos Diários e Emis-
soras Associadas do Brasil, trouxe para a Rádio Difusora uma grade de programa-
ção que seguia a mesma linha dos programas que faziam sucesso na Rádio Baré,
isso deu início a uma rivalidade histórica.
Com o aval das emissoras do eixo Rio-São Paulo, as duas Rádios organizavam inú-
meros eventos musicais com apresentações de artistas brasileiros consagrados.
Suas disputas por audiência não necessariamente ocorriam em seus estúdios,
muitos programas eram realizados ao ar livre com a presença maciça do público.
Com Rômulo Gomes à frente, a Rádio Baré agitava a cidade na Maloca dos Barés,
um grande auditório ao ar livre, localizada onde hoje está instalada a Capitania
dos Portos. A Rádio Difusora respondia no mesmo diapasão com a Festa da Mo-
cidade, realizada primeiramente num espaço situado na Rua Silva Ramos e pos-
teriormente no endereço onde hoje está edificado o Edifício Palácio do Rádio, na
Avenida Getúlio Vargas.
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BARÉ X DIFUSORA, UMA RIVALIDADE SAUDÁVEL
Publicada em 15 de outubro de 2016.
A rivalidade entre as Rádios teve seu auge entre 1949 e 1959. Os cantores mais fa-
mosos do Brasil não só tinham suas músicas divulgadas pelas duas rádios, como
a maioria deles aqui se apresentou: Aracy de Almeida, Mazzaroppi, Roberto Sil-
va, Jararaca e Ratinho, Alvarenga e Ranchinho, Nuno Rolando, Lourdinha Bitten-
court, Linda e Dircinha Batista, Nilo Sérgio, Nora Ney, Ângela Maria, a “sapoti”;
Emilinha Borba, a “garota grau dez”; Marlene, Dilú Melo, Milton Teixeira, Chico
Alves, “o Rei da voz”; Carlos Galhardo, “o cantor que dispensa adjetivos”; Nelson
Gonçalves, “o Boêmio”; Silvio Caldas, “o cantor das despedidas”; Vicente Celestino,
“a voz orgulho do Brasil”; Orlando Silva, o “cantor das multidões”; Jorge Goulart,
Trio de Ouro e Dalva de Oliveira, “o rouxinol do Brasil”; Dalva de Oliveira (sem o Trio
de Ouro), Luiz Gonzaga, o Rei do Baião; Blecaute, Las Palomitas, o garoto Paulo
Molim, pernambucano que encantava cantando “Serenata Suburbana”, “Olinda,
Cidade Eterna e “Recife, cidade lendária”, canções de autoria de Capiba; e outros
cantores mais.
As rádios traziam os artistas, os anunciantes patrocinavam hospedagem e trans-
porte.
As duas rádios também tinham seus próprios artistas e apresentadores. Os can-
tores locais mais requisitados nos anos 1950, eram: Almir Silva, Guiomar Cunha,
“a intérprete das valsas apaixonadas”, artista que fez parte do cast da Voz da Ba-
ricéia, no fim da década de 1930; Orsine Marques, Ilka de Souza, Roque de Sou-
za, Estevão Santos, Rosangela Fuentes, Maria Neide, Hélio Trigueiro, dentre ou-
tros. Os apresentadores e animadores mais famosos eram: Belmiro Barrela, que
também era cantor e compositor; Índio do Brasil, Romulo Gomes, Josaphat Pires,
Jaime Rebelo, os irmãos Flaviano e Andrea Limongi, Wupslander Lima e Abner
Dantas de Mesquita.
Num fim de semana dos primeiros dias da década de 1950, o Cine Teatro Polite-
ama estava lotado quando o apresentador Belmiro Barrela anunciou: “E agora,
senhoras e senhores, é com enoooorme alegria que lhes apresento o harmonio-
so conjunto musical, o grupo fenômeno, Looooos Cariiiiibeeees” (palmas e asso-
bios). E prosseguiu: “… que hoje interpretará o grande sucesso de… (longa pausa)
Panchito Ubaldino, “Se Va El Caramelero””.
Ninguém, exceto o Ubaldino Meirelles, percebeu o “ improviso” do apresentador.
Belmiro havia esquecido o autor daquele sucesso e, ao identificar o jovem estu-
dante e futuro deputado federal na plateia, não contou conversa, deu-lhe a pater-
nidade da música de Arsenio Rodriguez.
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“Los Caribes” era um dos grandes conjuntos vocais de Manaus, tinha contrato de
exclusividade com o Hotel Amazonas, mas também se apresentava em festas,
clubes e na Maloca dos Barés. Dois outros conjuntos locais arrebatavam fãs, os
“Ases Infernais”, exclusivo do Ideal Clube, e os “Cancioneiros da Lua”.
O grupo “Cancioneiros da Lua” era formado por seis jovens, em sua maioria mem-
bros da família Caminha: os irmãos Hiram, Ivan e Almeron Caminha, Hélcio e Rai-
mundo – primos dos Caminha – e Clovis Bacuri. O grupo iniciou sua trajetória de
sucesso em 1945, com apresentações em aniversários, mas em pouco tempo se
tornou o melhor da cidade, tanto que Ademar de Barros, que por aqui esteve em
campanha eleitoral para a presidência da República, o convidou para se apre-
sentar em São Paulo. Os componentes do grupo, por serem estudantes e não
ambicionarem viver profissionalmente da música, declinaram do convite. Partici-
param da festa de inauguração da Rádio Difusora, antecedendo a apresentação
de Orlando Silva, o “cantor das multidões”; e da inauguração do cine Éden. Eram
contratados exclusivos do Atlético Rio Negro Clube, se apresentavam no progra-
ma de auditório da Rádio Difusora e nos espetáculos ao ar livre da Festa da Cida-
de. Os “Cancioneiros da Lua”, para a tristeza dos fãs, deixaram os palcos da cidade
em 1952, no auge e prematuramente.
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ARY BARROSO, QUEM DIRIA, FOI “GONGADO” EM MANAUS
Publicada em 19 de outubro de 2016.
Desde os 18 anos de idade, completados em 1949, Amélia Vitória era requisitada
para tocar em bailes e festas de Manaus. Talentosa, fez parte do “Trio Baré”, com-
posto por Chiquinho (contrabaixo), Hércules (bateria) e Amélia Vitória (piano). O
Trio acompanhava os cantores trazidos por Bianor Garcia – funcionário da Rádio
Baré – que para cá vinham sem seus músicos: Ivon Cury, Marlene, Linda Batista,
Cauby Peixoto e, já nos anos 1960, Waldick Soriano. Amélia Vitória acompanhou
diversos cantores amazonenses em bailes e festas em geral, como Júlio Otávio e
Arminda de Oliveira. O Trio Baré chegou a tocar com o famoso “Trio de Ouro”, na
ocasião composto por Herivelto Martins, Nilo Chagas e Noemi Cavalcanti. Amélia
Vitória também fez dupla de apoio com o renomado pianista amazonense, Júlio
Aleixo.
Três passagens marcantes dessa notável pianista, que lamentavelmente pouco
ou nenhum registro tem na vida musical de Manaus: naqueles anos, o Atlético Rio
Negro Clube aceitava sócios militares desde que fossem oficiais. Aparentemente
um impasse sem solução, já que a requisitada pianista, que lá com frequência se
apresentava, era casada com o sargento Henrique, companheiro e companhia
inseparável em todas as suas apresentações. Para tê-la, ao clube restou uma op-
ção: quebrar a regra.
Sob a alegação de que não pagava cachê para sócios, o clube barriga-preta não
a remunerava em suas apresentações. Decidiu que lá não mais tocaria. Pois bem,
Cauby Peixoto, numa de suas vindas à Manaus, tinha duas apresentações marca-
das: a primeira às 10hs da noite, no Atlético Rio Negro Clube; a segunda, à 1h hora
da madrugada, no Las Vegas, um clube que ficava na Av. Joaquim Nabuco entre
a Rua Ramos Ferreira e a Rua Major Gabriel. Cauby e Amélia lá haviam ensaiado
a tarde toda.
Na hora da apresentação no Rio Negro, Cauby avisou que só entraria em cena se
acompanhado da pianista. Emissários do clube foram, às pressas, buscá-la em
casa. Enquanto ela ainda se aprontava para a apresentação no Las Vegas, o sar-
gento Henrique assumiu o papel de empresário: “Amélia só tocará se todos os
cachês antigos forem pagos. E mais! Para acompanhar o Cauby hoje o cachê será
dobrado”. Os rionegrinos estrebucharam, mas pagaram todo o atrasado.
A orquestra de Ary Barroso, de volta dos EUA, era a atração do Rio Negro. Amélia
Vitória havia sido contratada para tocar nos intervalos de sua apresentação. Ary
Barroso era um tremendo sucesso nacional, mas só tocava samba. Já por essas
terras de Panchito Ubaldino, a preferência era dançar colado ao som de bolero.
Quando o intervalo chegou, o “Trio Baré” fez o previsível, tocou boleros. A pista
encheu de “ bailadores” e, ao final, aplaudiram e pediram bis.
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Ao retornar, Ary Barroso, um tanto incomodado com a reação do público e, quem
sabe pensando que estava a apresentar o seu concorrido Programa de Calouros
– onde costumava aprovar ou “gongar” os postulantes – disse-lhe com rispidez: “é
um absurdo a senhora tocar música estrangeira para o pessoal dançar”. Na pre-
sença de algumas testemunhas, Amélia Vitória respondeu ao autor de “Aquarela
do Brasil”: “Eu sou música e toco aquilo que o pessoal gosta de dançar”. Pois é, os
papéis se inverteram, aqui o “calouro” Ary Barroso foi ”gongado”.
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2ANOS 1950, IDADE DAS TREVAS OU ANOS DOURADOS?
Publicada em 22 de outubro de 2016.
Se por um lado está fixado na memória social como os “anos dourados” do gla-
mour e do romantismo, por outro, numa análise mais crítica, a década de 1950
é entendida pelas correntes de opinião mais influentes das nossas crítica e his-
toriografia musicais, como a década que viveu o auge do movimento folclorista
brasileiro, uma concepção que consideravam atrasada, por que “impregnada de
sonoridades “latinizadas” nas quais imperava um “romantismo de massas”. Eram
os padrões interpretativos em que prevalecia o estilo vocal-operístico e com ex-
cessiva emoção contida nos boleros e sambas-canções.
A década, portanto, em linhas gerais, é vista como “um período dividido entre um
momento de predomínio de uma noção da cultura e da música popular como
produtos da massificação cultural, calcada em um repertório defasado e ainda
ligado a uma sensibilidade ingênua de cunho rural e regional” conforme blá.
No livro Chega de Saudade, Ruy Castro compara a vida musical do Brasil pré-
-bossa nova a uma grande quermesse, na qual imperavam baiões e sanfonas.
“Mesmo o qualitativo colado àquela década, algo nostálgico e carinhoso, de “a era
do rádio”, em parte é ofuscado pela pujança e qualidade desse meio de comuni-
cação nos anos 1930 e 1940, antes de ser popularizado e ocupado pelas “macacas
de auditório” justamente nos anos 1950, termo em si mesmo pejorativo e racista.
Enfim, na querela entre os antigos e modernos no campo da historiografia e da
produção musical brasileira, os anos 1950 acabaram ficando no limbo da história
como uma espécie de “idade das trevas musicais”. Se os medievalistas há muito
já conseguiram se desvencilhar dessa adjetivação do seu período de estudo, a
música brasileira da década de 1950 ainda aguarda um novo julgamento historio-
gráfico, para o qual o campo da história da cultura teria muito a contribuir”.
Bem, se alguns historiadores enxergam a década de 1950 sob uma perspectiva
problemática, onde o rótulo de “anos dourados” não cabe, o julgamento dos ma-
nauaras que viveram aqueles anos é diametralmente oposto. Só lhes trazem lem-
branças felizes, retratadas nos indisfarçáveis brilhos que os seus olhos irradiam.
“Idade das trevas musicais? Negativo! Anos dourados, sim! Então o que dizer dos
anos 1960? Anos de chumbo? – Referindo-se ao golpe militar de 1964 – Ora bolas!
” Definiu e arrematou Claudio Figliuolo.
Para os amazonenses que conheço e que viveram os anos 1950, não cabem lem-
branças da vida musical de Manaus que não sejam doces e felizes.
O disco Canção do Amor Demais (1958), da cantora Elizeth Cardoso, para muitos
é considerado o momento inaugural da Bossa Nova. Todas as faixas são canções
compostas pela dupla Tom Jobim e Vinícius de Morais, além disso, em algumas
faixas, João Gilberto acompanha Elizeth ao violão com uma nova “batida”.
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Era a Bossa Nova dando boas-vindas aos anos 60.
A palavra bossa surgiu pela primeira vez na década de 1930, na letra da música
Coisas Nossas, samba de Noel Rosa. Na década seguinte a expressão “bossa nova”
começa a ser usada para denominar os improvisos das paradas súbitas, com en-
caixe de falas, durante a música nos sambas de breque.
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BOSSA NOVA, UM MOVIMENTO DA MPB
Publicada em 26 de outubro de 2016.
A Bossa Nova, singular movimento da Música Popular Brasileira - MPB, teve início,
“oficialmente”, em agosto de 1958, quando chegou às lojas brasileiras do ramo, o
disco de 78 rotações de número 14.360 do selo Odeon. Era o cantor João Gilberto
a inovar com as músicas Chega de Saudade (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) e
Bim Bom, de sua própria autoria.
A novidade trazia elementos do samba sincopado, alguma influência do jazz
americano e do impressionismo erudito de Debussy – compositor que com a sua
obra-prima “Prélude à l’après-midi d’un Faune” revolucionou ao inventar um es-
tilo de música inspirado na pintura impressionista, na poesia simbolista e na mú-
sica asiática – e Maurice Ravel, que fazia uso dos mesmos efeitos musicais.
O movimento musical resultava da emergência urbana do país em plena fase
desenvolvimentista do governo de Juscelino Kubitschek (1955-60), o “presidente
Bossa Nova”, cujo Plano de Metas de seu governo prometia o crescimento da
nação de “50 anos em 5”. Aliado a isso havia um inconformismo latente com o
estandardizado formato musical predominante dos “dós de peito” – aqueles can-
tados em plena voz, assim chamados para diferenciá-los do falsete. Nesse am-
biente de inquietação e desagrado, surgiu uma corrente de músicos inovadores
como os violonistas Luís Bonfá, Garoto, Valzinho e Laurindo de Almeida; também
João Donato e, principalmente, o pianista e compositor Johnny Alf.
A voz de Elizeth Cardoso representava o padrão do “vozeirão” da Era do Rádio
(1940/1950), que os jovens classe-média-zona-sul do Rio de Janeiro achavam ca-
fona ou “démodé”. Assim, a batida de violão de João Gilberto era o grande “bara-
to”. Quando, em 1959, ele regravou Chega de Saudade em seu primeiro LP, sua
interpretação vocal ditou o que viria a ser o novo estilo, ou seja: a contenção e a
economia de meios; nada de vidrados, prolongamentos vocais, nada de vozeirão.
O termo MPB – Música Popular Brasileira -, surge pela primeira vez na história da
música brasileira em 1960, empregado por Ary Barroso na contracapa do disco
‘Bossa Nova’, de Carlos Lyra. Com o passar das décadas o termo aumentou sua
abrangência de estilos, ampliando seu significado – exceção feita ao pop-rock – e
hoje abarca praticamente qualquer tipo de música brasileira.
No mesmo instante em que esse movimento efervescia, contagiando brasileiros
dos mais distantes rincões, “[…] Manaus era uma suntuosa ruína à margem do
Brasil, o Teatro Amazonas era quase exclusivamente ocupado por valores locais,
artistas da cidade letárgica na tentativa de despertar alguma emoção mais forte.
Eram programas bastante românticos, com muita música do século XIX”.
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Apesar desse cenário decadente, onde os jornais estampavam manchetes como:
“Uma Manaus pobre e abandonada”, a cidade acompanhava tudo o que a déca-
da de 1960 sugeria ao país, especialmente sua marcante característica expressa-
da pela diversidade de posições em todos os campos da atividade econômica,
política e cultural: a contradição. Era como se o Brasil quisesse se abrir para o
mundo e, ao mesmo tempo, voltar-se para dentro de si.
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PARA COMBATER A CRISE ECONÔMICA, ROCK AND ROLL
Publicada em 29 de outubro de 2016.
Enquanto o movimento Bossa Nova se espargia pelo país no início dos anos 1960,
por aqui os cantores amazonenses de rádio, mantinham suas participações em
programas de auditório, cantando os sucessos de grandes artistas nacionais. Os
mais festejados eram: Nicolau Murno, Helio Azaro, Celso Miranda, Arminda Oli-
veira, Júlio Otavio, Maria das Dores, Maria Aparecida, Katia Maria, Sebastiana Mo-
reira, Marlene Santana, Clovis Carvalho, Paulo Lino, Almir Silva, Salim Gonçalves,
Conrado Silva, Wilson Campos, Celso Miranda, Luiz Pinto (o “Little Box”), Trio Ita-
puan, “ Los Caribes” e outros.
Os meios de comunicação – jornal e rádio – influenciavam significativamente na
definição de gostos e comportamento do manauara. Ao cinema cabia exercer
outro preponderante papel na formação e comportamento dos artistas locais: a
absorção dos trejeitos, através da “visualização das performances dos artistas nos
filmes musicais que estavam no auge”.
Assim, com os filmes de Elvis Presley a inundar as telas a cada ano – Feitiço Ha-
vaiano; Talhado Para Campeão; Garotas, Garotas e Mais Garotas; Louras Morenas
e Ruivas; O Seresteiro de Acapulco e outros – e os Reis do Iê Iê Iê (A Hard Day’s Ni-
ght) – primeiro filme dos Beatles – a lotar as salas de cinemas da capital, os ídolos
internacionais conquistavam espaço e se juntavam aos ídolos nacionais no gosto
das pessoas daqui, que não só os viam e ouviam, como os imitavam.
Em Manaus, os anos 1960 tinham como característica a continuidade da crise
econômica, a tentativa de internacionalização da Amazônia e a aposta na Zona
Franca como forma de integração da cidade ao resto do Brasil. A válvula de es-
cape da parcela da juventude “irrequieta” estava no envolvimento com a música
que chegava através do rádio e do cinema.
O rock and roll, surgido no fim da década de 1940 e início de 1950, com seus
acordes e batidas, era uma alternativa sem volta. Desde 1961, o radialista Joaquim
Marinho tratava de consolidar esse gênero musical através do programa denomi-
nado “Chegou a Hora do Rock”, na Rádio Rio Mar, a tocar em sua grade musical
os sucessos dos Beatles, Rolling Stones, Bill Haley e seus Cometas, Elvis Presley e
outros.
Definitivamente Marinho chegara com uma proposta que fugia das baladas ro-
mânticas predominantes. Ele viajava para os Estados Unidos, comprava, ouvia
discos de rock compulsivamente e os compartilhava em seu programa.
16
Além disso, tinha a vantagem de ser o representante de discos da Philips, o que
possibilitava receber todos os lançamentos da gravadora. Joaquim Marinho foi o
embaixador do rock em Manaus.
A juventude amazonense mais abastada tinha o privilégio de viajar para o eixo
Rio-São Paulo e até para o exterior. Esse privilégio permitia que comprassem as
novidades musicais antes que por aqui chegassem. O barato para eles não era
só convidar os amigos para ouvir as raridades, era, antes, ouvir os discos muitas
vezes e, quando da apresentação coletiva, se exibir vocalizando com o cantor ou
grupo de rock correspondente.
Foi ouvindo rock e assistindo filmes de rock que surgiu a primeira banda do gê-
nero, “The Beats Rock”. Joaquim Marinho fazia os vocais e tocava bateria; o médi-
co Evandro Ribeiro, no contrabaixo; o economista Assis Mourão, no piano; e David
Pennington, na guitarra e vocais. A banda fazia cover dos Beatles e, segundo Ma-
rinho, atuou por cinco anos.
17
OS CLUBES, O TEATRO AMAZONAS E A TELEVISÃO
Publicada em 2 de novembro de 2016.
Assim como nas grandes capitais brasileiras, as festas nos clubes de Manaus tidos
como de elite – Cheik, Atlético Barés, Atlético Rio Negro e Ideal – eram realizadas
com som de Alta-fidelidade, mais conhecido como Hi-Fi – high-fidelity -, em que
a reprodução de áudio era feita por um aparelho de som, com a maior fidelidade
possível ao som real, onde o desejável era minimizar, ao máximo, os efeitos de
ruídos e distorções.
Os clubes mais populares da cidade eram o River Clube, Luso Sporting Clube,
União Esportiva Portuguesa, Sul América Esporte Clube, São Raimundo, Princesa
Isabel, Rio Branco Futebol Clube, Guanabara Clube de Campo, Cliper Clube, Amé-
rica Futebol Clube, Associação Atlética Banco do Brasil-AABB e Nacional. Todos
esses promoviam festas, bailes de carnaval e prestigiavam os cantores da cidade.
Às vezes, nos fins de semana, a União Atlética Constantinopla, Radilândia Clube,
Olímpico Clube e Acapulco, se convertiam em boates.
Além dos clubes, ocorriam eventos musicais nos balneários – até meados da dé-
cada de 1960, Manaus era conhecida como uma “cidade balneária”-, no Teatro
Amazonas, nos cinemas Ypiranga, Odeon e Guarany e nas rádios de maior audi-
ência: Baré, Difusora e Tropical – a primeira rádio em FM do Brasil e a segunda na
América do Sul, inaugurada em 1968.
O majestoso Teatro Amazonas recebeu celebridades internacionais como a can-
tora espanhola Sarita Montiel, o tenor italiano Pepes del Palucci e o pianista, com-
positor e regente vienense, Frederico Egger; também recitais da soprano bra-
sileira Blanca Bouças. Para que o teatro não se transformasse numa Arena da
Amazônia, programavam-se eventos não convencionais para homenagear o go-
vernador, outras autoridades políticas e até diretores de jornais.
Lá se apresentavam sob a batuta do maestro Divaldo Santiago, o coral João Go-
mes Junior, que em março deste ano completou sessenta anos; noutras ocasiões
o pianista amazonense, radicado no Rio de Janeiro, Arnaldo Rebello; noutras o
“Conjunto de Câmara Orpheus”, um trio de cordas e piano, de Manaus, coman-
dado pelo violonista, Dr. Pedro Bacelar, especializado em música erudita. Garan-
tiam-se com isso, o “despertar de emoções” na sociedade baré e a não conversão
do Teatro Amazonas em um elefante branco.
Os cinemas não só apresentavam em suas telas filmes musicais ou películas es-
treladas por Elvis Presley ou Beatles, eram cines-teatros que recebiam cantores
renomados como Orlando Dias, o “cantor das multidões”, que em março de 1961,
se apresentou no cine Ypiranga, no bairro da Cachoeirinha.
18
Se no Brasil a televisão chegou por obra de Assis Chateaubriand no ano de 1950,
em São Paulo, com a TV Tupi; em Manaus a televisão só chegou 15 anos depois,
com a TV Manauara – a primeira emissora de televisão da Amazônia -, surgida
como hobby da Família Hauache, em 1965. A TV Manauara foi uma das primeiras
TVs a cabo do Brasil, mas a experiência não teve continuidade em decorrência de
inúmeros problemas técnicos.
A TV Ajuricaba, também da família Hauache, começa a transmitir livremente em
5 de setembro de 1967 (1967/1986). Era o canal 8, em UHF, estação repetidora da
TV Record. Mas havia um programa de calouros ao vivo, realizado aos domingos,
que não só prendia a atenção das famílias manauaras, como também fazia com
que a timidez cabocla se liberasse, expondo publicamente os mais distintos ta-
lentos, era o “Peneira Ajuricaba”.
Em 21 de novembro de 1962, “realiza-se no Carnegie Hall, em Nova York, Estados
Unidos, o primeiro e lendário Festival de Bossa Nova (também introduzido como
New Brazilian Jazz) com apresentação de João Gilberto, Tom Jobim, Edu Lobo,
Bola Sete, Sérgio Ricardo, Sérgio Mendes e outros. É o lançamento internacional
oficial e em grande estilo da bossa nova com muita repercussão nos Estados
Unidos e Brasil”
19
3
3
3ROBERTO CARLOS EM MANAUS
Publicada em 5 de novembro de 2016.
A Bossa Nova era a maior sensação norte-americana no começo dos anos 60,
sendo suplantada apenas pelo surgimento dos Beatles. O sucesso do disco ‘Jazz
Samba’, do guitarrista Charlie Byrd e do saxofonista Stan Getz, populariza o gêne-
ro no país e credencia os americanos a adotarem o estilo vindo do Hemisfério Sul.
O movimento Jovem Guarda, também conhecido como iê-iê-iê, surge em 1963,
era a versão brasileira do rock mundial, responsável pela introdução da guitarra
elétrica e instrumentos eletrônicos.
Em 1964 ocorre um marco na história da MPB, no Rio de Janeiro, o Show Opinião.
Lá o maranhense João do Vale (1934-1996) se destaca com a música “Carcará”,
composição dele em parceria com José Cândido.
Liderado por Roberto Carlos, em 1965, surge o programa de televisão semanal
com o mesmo nome – Jovem Guarda – na TV Record, na capital de São Paulo.
Roberto o apresentava ao lado de Erasmo Carlos, Wanderléa e inúmeros convi-
dados, como Martinha, Rosemary, Antônio Marcos, Eduardo Araújo, Ronnie Von,
Paulo Sérgio, Prini Lorez, Sylvinha Araújo, Wanderley Cardoso, Jerry Adriani, Vanu-
sa, Evinha, Deny e Dino, Leno e Lilian, The Jordans, The Jet Blacks, Renato e Seus
Blue Caps, Golden Boys, Lafayette e seu Conjunto, Os Vips, Os Jovens, The Pops,
The Fevers, Os Incríveis, Trio Esperança e outros mais.
O sucesso de Roberto Carlos era inconteste, seus shows arrastavam multidões e
os jovens daqui ansiavam por vê-lo. Ele veio duas vezes, em 1965 e 1966.
Em sua segunda vinda o aeroporto de Ponta Pelada lotou, foi dureza para a se-
gurança conter a excitação da turba, tinha desde crianças a idosos, autoridades,
senhoras, senhores e jovens. Era o dia 1º de setembro de 1966.
Seriam duas apresentações, a primeira no Circo Americano, montado na Praça
14, bem em frente à igreja de Nossa Senhora de Fátima, muito antes das lancho-
netes e da construção da Escola de Samba Vitória Régia.
Num tempo em que não existia ponte de embarque, os passageiros desciam
pela escada do avião e caminhavam até a sala de desembarque. Os passageiros
foram surgindo um a um, o Rei do iê-iê-iê foi o último. Enquanto caminhava o
povo gritava em delírio.
Houve certa apreensão quanto a sua segurança, tamanha era a histeria, mas tudo
correu bem. Exceto para alguns mais exaltados, que receberam, dos desastrados
PMs destacados para a missão, “ carinhosos” golpes de cassetetes em partes não
selecionadas dos seus corpos.
20
A apresentação foi apoteótica, RC agora muito mais popular que dá primeira vin-
da, recebeu um cache espetacular, muitas vezes superior ao da sua primeira vin-
da.
Vigiado em todos os seus passos – reza a lenda urbana -, foi flagrado contando as
notas dos pacotes de dinheiro que continham os doze milhões de cruzeiros que
recebera de cache. Eram tantas as notas, todas amarradas em ligas de borracha,
que a medida que iniciava uma nova contagem, retirava as ligas e as colocava em
seu braço esquerdo. No dia seguinte a novidade se espalhou pela taba, por meses
não haveria um jovem manauara que não fosse encontrado com o braço esquer-
do cheio de ligas de borracha. Definitivamente os ídolos ditam moda.
Se perguntado a qualquer um fã, o que do Roberto Carlos ele pensava, a resposta
seria sempre a mesma: “Bicho, o Roberto é uma brasa, mora! ”
21
OS FESTIVAIS, A ESPERANÇA DE UM NOVO TEMPO E AS DUBLAGENS
Publicada em 9 de novembro de 2016.
Além da Bossa Nova e do movimento Jovem Guarda, os anos 1960 trouxeram
consigo os grandes festivais de música popular brasileira. Coube a extinta TV Ex-
celsior, em 1965, dar o pontapé inicial àquela era, com a realização do I Festival
de Música Popular Brasileira. Na edição saiu-se vitoriosa a música “Arrastão“, de
Edu Lobo e Vinícius de Moraes, interpretada por Elis Regina. No ano seguinte
acontece o Festival Nacional de Música Brasileira, sagra-se campeã a música “
Porta-Estandarte”, de Geraldo Vandré e Fernando Lona, defendida por Tuca e Air-
to Moreira.
No mesmo ano, a Record realiza o II Festival de Música Popular Brasileira. Nos
anos subsequentes realizou o III, IV e V festivais, além da I Bienal do Samba. A TV
Rio, em 1966, realiza o I FIC, Festival Internacional da Canção. A partir do II e até o
VII, já nos anos 1970, a Rede Globo assumiu as suas realizações. Foram nesses fes-
tivais que despontaram Elis Regina, Edu Lobo, Caetano Veloso, Gilberto Gil, MPB
4, Gal Costa, Nara Leão, Os Mutantes, Paulinho da Viola, Milton Nascimento, Tom
Zé, Chico Buarque e outros mais.
No Amazonas, o intelectual Arthur César Ferreira Reis assume como o primeiro
governador do Amazonas indicado pelo Regime Militar (1964/1967). Conhecido
como o “Velho Reis” e o “Amigo das Artes”, promove mudanças administrativas e
culturais de relevância, com destaque para o Festival do Cinema, Festival de Mú-
sica e Feira do Livro. Arthur Reis muito se empenhou nas questões relacionadas à
Amazônia e no incentivo a publicação de obras de autores amazonenses. Foi um
dos mais produtivos e importantes historiadores da Amazônia, suas obras sobre
a região amazônica são imprescindíveis para quem pretende estudá-la.
Foi ele quem desfraldou, como poucos, a bandeira da não internacionalização
da Amazônia, também encomendou ao poeta e compositor Áureo Nonato, uma
música cuja letra mudasse o conceito que os brasileiros tinham desta região e es-
timulasse o povo daqui a se orgulhar da cidade, da sua origem e da sua identida-
de. Em 27 de junho de 1965 deu-se o lançamento da música Canção de Manaus:
“Quem viu você, não pode mais esquecer/ quem vê você, logo começa a querer;
Manaus, Manaus, Manaus minha cidade querida…”.
Paralelo às mudanças que Arthur Reis promovia na área cultural, em meados de
1964 deu-se início, em Manaus, a um período em que a dublagem caiu nas gra-
ças dos citadinos. Atingiu seu ápice em 1965 e 1966, com as realizações de dois
festivais, o 1º em 18 de setembro de 1965 e o 2º no dia 24 de setembro de 1966,
ambos durante a semana do Rádio. A manifestação começou como uma brinca-
deira, depois virou febre e se profissionalizou: o artista escolhia o cantor, a música,
criava uma coreografia, ensaiava em frente ao espelho de casa até atingir a per-
22
feita sincronização entre mímica e voz; confeccionava uma roupa especial e se
apresentava, profissionalmente, nas festas dos principais clubes de Manaus, nas
rádios e televisão.
A dublagem tinha boa aceitação popular, em grande parte por uma questão
conjuntural. O empresariado local experimentava a escassez de recursos finan-
ceiros e, consequentemente, falta de liquidez. Exatamente o que hoje a recessão
econômica brasileira nos impõe. Isso os impedia de trazer artistas nacionais, as-
sim, eram eles, os dubladores profissionais, que preenchiam a ausência dessas
atrações.
O dublador era aquele artista que, com muito capricho, substituía o titular da
obra, ora teatralizando ora caricaturando sua apresentação. Os mais talentosos
eram: Eline Santana, Salim Gonçalves, Conrado Silva, Almir Silva, Delfim Sá, Wil-
son Campos e Ednelza Sahdo. A essa última artista coube, com muita felicidade,
pôr termo a arte de dublar: “ um “teatro musicado”.
23
A TROPICÁLIA E A REPRESSÃO DO GOVERNO MILITAR
Publicada em 12 de novembro de 2016.
Em 1967, um marco na história da Bossa Nova e da música popular brasileira, Tom
Jobim grava com Frank Sinatra o álbum americano “Francis Albert Sinatra & An-
tônio Carlos Jobim”. Nele Sinatra interpreta sucessos da Bossa Nova, como Dindi,
Garota de Ipanema e Corcovado, todos de autoria de Tom. O dado curioso do dis-
co é que Tom o acompanha no violão e não no piano, seu instrumento favorito.
Conta-se que Sinatra, por ciúme, não deixou que Tom o acompanhasse no piano,
instrumento que mais prestígio dava aos músicos americanos.
No mesmo ano de 1967, em Manaus, ocorre “a 1ª Feira de Incentivo ao Desenvolvi-
mento Econômico do Estado do Amazonas – FIDEA, um evento promovido pela
recém-criada Superintendência da Zona Franca de Manaus – SUFRAMA, aconte-
cimento que contou com o apoio do Governo do Estado, Prefeitura e Federação
das Indústrias. Em uma área de 7.000m² na Rua José Clemente, no trecho da la-
teral do Teatro Amazonas, foram montados 130 stands a expor todos os produtos
saídos das fábricas instaladas em território amazonense. Durante um mês, do dia
21 de maio a 20 de junho, entre as 18h:00min e 23h:00min, foram mostrados ain-
da, couros silvestres extraídos da imensa fauna amazonense e beneficiados em
Manaus, e outros produtos comercializados na praça local.
A Feira trouxe atrações musicais especialíssimas: Agnaldo Timóteo, Zimbo Trio,
Brazilian Beatles, Maritza Fabianni, Renato e seus Blue Caps e um Conjunto da
Guiana Inglesa de nome Des Glasford and Combo 7. Os homens fizeram tanto
sucesso com o som que extraiam dos camburões de ferro – especialmente com
as músicas Only You e See You in September – que deixou a todos boquiabertos.
Não há registros em jornais ou em qualquer literatura Baré, mas os amigos Lúcio
Bezerra de Menezes e Osvaldo Frota, moradores da Rua José Clemente, no dia
seguinte ao referido show, “conseguiram” dois camburões “jogados” dentro da
Santa Casa de Misericórdia e, misericórdia! Por dois dias, nos fundos da casa do
segundo, “ensaiaram” exaustivamente. Não conseguiram arrancar o som deseja-
do dos camburões, só o som irado vindo da vizinhança.
Ainda em 1967, acontece o primeiro e um dos mais importantes festivais da his-
tória da cidade, o Festival Estudantil de Música Popular Brasileira, evento organi-
zado pelo Diretório Central dos Estudantes da Universidade do Amazonas, a UA,
hoje UFAM. O festival teve três edições e trouxe shows de artistas nacionais, como
Jards Macalé, Gilberto Gil e Chico Buarque.
O ano foi pródigo. A partir do Festival de Música Popular realizado pela TV Record
naquele ano, surge o tropicalismo, movimento musical que teve enorme influ-
ência da cultura pop brasileira e internacional, além de correntes de vanguarda,
como o concretismo.
24
Também conhecido como Tropicália, inovou ao promover a mistura entre vários
estilos musicais (rock, bossa nova, rumba, baião, samba, bolero, entre outros). Era
um movimento de ruptura e sacudiu o ambiente da música popular e da cultura
brasileira, especialmente a partir do lançamento do disco ‘Tropicália – Panis Et
Circenses‘, em julho de 1968, com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Nara
Leão, Os Mutantes, Tom Zé, além dos letristas José Carlos Capinam e Torquato
Neto e o maestro Rogério Duprat.
Afora a música e a mensagem que trazia, alterou critérios vigentes, como: com-
portamento, corpo, sexo, cabelo e vestuário. O movimento foi reprimido pelo go-
verno militar e durou pouco mais de um ano (1967/1968). Eram músicas cujas le-
tras tinham conteúdo poético, com críticas sociais e tratavam temas do cotidiano.
O nome pode ter surgido em um texto do crítico Nelson Motta, inspirado na obra
Tropicália, do artista plástico Hélio Oiticica; ou, sob a mesma inspiração, dado por
Caetano Veloso.
25
“MANAUS ERA UMA CIDADE VEGETAL…”
Publicada em 16 de novembro de 2016.
“O ano de 1968 foi o pior de todos os tempos, na mais improvável das cidades, para
se fundar um grupo de teatro. Ainda assim nasceu o TESC, o Teatro Experimental
do SESC do Amazonas. Da cabeça do poeta Aldísio Filgueiras, da ação do teatró-
logo Nielson Menão e da vontade da direção do SESC do Amazonas. Após um
curso de artes cênicas ministrado por Nielson Menão, o SESC decide organizar
um grupo de teatro permanente, que fez história e iria se transformar no grande
espaço de resistência cultural num momento de angústias e transformações“.
Contrastando com o conceito cunhado por Márcio Souza de “o pior de todos os
tempos”, naquele ano de 1968, o governo militar anunciava medidas para a ocu-
pação da região, dentre elas a extensão da Zona Franca para o interior, prioridade
para telecomunicações, energia elétrica, água e esgotos, integração e ocupação
do território, rodovias, ampliação do porto, pesquisa mineral, aumento da capaci-
dade da refinaria de Manaus, projetos que objetivavam acompanhar o progresso
nacional em andamento.
As medidas anunciadas pelo governo prometiam, o cenário descrito por Márcio
Souza não mentia, mesmo assim Manaus inicia a era dos Festivais com a reali-
zação do Iº Festival de Música Estudantil do Amazonas, promovido pelo DEPRO
– DCE- UESA. O Festival ocorreu no Teatro Amazonas, no período de 26 a 28 de
novembro. Sagrou-se vencedora a música “Giramundo”, de Aníbal Beça.
Em 1969 acontece o IIº Festival de Música Estudantil do Amazonas, desta vez re-
alizado no Atlético Rio Negro Clube, no período de 16 a 18 de setembro. O Evento
trouxe como atração para o seu encerramento, o conjunto musical Os Mutantes,
grupo que havia acabado de se classificar para a final do Festival Internacional da
Música, no Rio de Janeiro.
A música Jogo de Calçada, de Ilton Oliveira e Wandler Cunha, tirou o segundo
lugar no Festival, mas em primeiro no gosto de Os Mutantes.
“O Ilton escreveu a letra de ‘Jogo de calçada’ e me entregou para eu fazer a músi-
ca e participarmos do festival. Para nossa felicidade, ficamos em segundo lugar e,
enquanto eu me apresentava, Os Mutantes estavam atrás do palco esperando a
hora de entrar. Eles ouviram a música e depois o Joaquim me chamou num can-
to dizendo que o Serginho [Dias] queria falar comigo. Fiquei muito surpreso com
isso e fui lá bater um papo rápido com ele, a Rita Lee e o Arnaldo Baptista”. “Os
Mutantes respeitaram a harmonia e a melodia originais, mas Arnaldo Baptista
mudou algumas palavras da letra e acabou entrando como coautor da música”,
diz Wandler Cunha.
26
A partir de 1969, com a Zona Franca de Manaus, o comércio se expande e os
meios de comunicação ficam mais viáveis com a chegada de mais emissoras de
rádio e televisão. Era o Governo Federal almejando o desenvolvimento acelerado
da região, se empenhando “em converter a Amazônia no celeiro do Brasil e do
mundo”.
O desenvolvimento acelerado, almejado pelo Governo Militar, trouxe consequ-
ências irreversíveis, “Manaus era uma cidade vegetal, com folhas, flores e frutos
em todos os quintais. Uma cidade verde e perfumada. Aquela cidade da minha
infância, infelizmente, não existe mais”. O poeta, escritor, blogueiro e compositor
Simão Pessoa já deveria ter versado e musicado esse enredo-lamento que é de
todos nós. Tomara que ele não esteja esperando que o pai Dudu de Ogum evo-
que o ex-governador Arthur Reis para que esse o encomende. Cuida, Simão!
A vida musical em Manaus

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A vida musical em Manaus

  • 1. 1
  • 2. 2 Quando cheguei em Manaus, o rádio era um fenômeno de comunicação, o veículo que influenciava, que ditava, que ar- rebatava. Por isso, sempre entendi como fundamental o seu papel na vida musical de Manaus. Curioso que sou, a despeito da escassez de fontes, pesquisei a sua significância, nas décadas de 1950 e 1960, para o estado do Amazonas e para Manaus. Poucos amazonenses sabem que foi Ephigênio Salles, o mesmo que hoje dá nome à conhecida via da capital, quem deu início a Era do Rádio no Amazonas, isso na segunda me- tade da década de 1920, quando Manaus ainda padecia com a perda do monopólio da produção da borracha. Raros têm conhecimento que as rádios Baré e Difusora pro- tagonizaram enorme rivalidade. Naquela época, o público era atraído por atrações locais, como Os Cancioneiros da Lua, e muitos artistas de renome nacional, que aqui se apresenta- vam, com destaque para Ivon Cury, Marlene, Cauby Peixoto e Waldick Soriano. Em minha pesquisa, descobri episódios nunca dantes reve- lados, como os ocorridos com Cauby Peixoto e Ary Barroso, tendo como protagonista a pianista amazonense, Amélia Vi- tória. A pesquisa perpassa, ainda, pela Bossa Nova, a influência do Rock and Roll, a Tropicália e os festivais, até abicar nos clubes da cidade, no Teatro Amazonas e na televisão. Enfim, o texto é leve, gostoso, de relevante conteúdo infor- mativo e rápida leitura. Entre na sintonia da onda radiofôni- ca, pouco importa que ela seja, curta ou intermediária. APRESENTAÇÃO
  • 3. 3 1 1 A VIDA MUSICAL EM MANAUS NAS DÉCADAS DE 1950 E 1960 Publicada em 08 de outubro de 2016. Ouvir histórias e estórias, casos e causos de Manaus e do Amazonas, exercem so- bre mim fascínio e curiosidade. Fascínio porque são ricos em particularidades im- pensáveis hodiernamente; curiosidade porque aguça o meu querer saber mais. Foi o caso desse tema que, a princípio, se restringiria a abordagem da vida mu- sical em Manaus na década de 1960, mas à medida que pesquisava, descobria e ouvia detalhes imprescindíveis ocorridos na década anterior. Assim, concluí que não poderia abordar 1960 sem 1950. O resultado eu narro em 12 (doze) capítulos que, para a inteira compreensão da época, permeia, necessariamente, o cenário nacional. Boa leitura. Impossível divorciar o papel do rádio, da vida musical de Manaus. No dia 7 de setembro de 1922, nascia o rádio no Brasil. Naquela data foi transmi- tida, através de rádio telefonia, a fala do presidente Epitácio Pessoa em home- nagem a passagem do primeiro centenário da independência do Brasil. No ano seguinte, em 20 de abril, Edgar Roquette Pinto funda a primeira estação de rádio no Brasil, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, instituição de caráter basicamen- te educativo-cultural, cujo funcionamento sobrevivia graças às doações de seus sócios. Inviabilizada a sua continuidade nos moldes da difusão educativa. A rádio foi doada ao governo federal e ainda hoje está no ar como Rádio MEC. Arrebatado com as experiências de Roquette Pinto, Alfredo Mayrink Veiga funda sua própria rádio, a Rádio Mayrink Veiga, em 21 de janeiro de 1926. Dez anos de- pois, em 12 de setembro de 1936, nasce a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, emis- sora pertencente a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), órgão do Governo Fe- deral, responsável pela administração das emissoras de rádio e TV educativas do país; a primeira emissora a alcançar praticamente todo o território nacional. A partir daí o país não seria mais o mesmo. O rádio determinou o padrão das vozes que chegariam aos lares brasileiros, criou ídolos, mexeu com o imaginário popular, influenciou a cultura e os costumes da sociedade nacional. Sua programação diária era feita completamente ao vivo, ex- ceto os especiais, os comemorativos ou quando, por razões imperiosas, não fosse possível sua realização ao vivo. Nas décadas de 1940 e 1950, as transmissões radiofônicas brasileiras ganharam alcance internacional. Era o tempo das poderosas emissoras de rádio, que man- tinham enormes estruturas artísticas e administrativas, irradiando seus progra- mas para todo o país. 1
  • 4. 4 A maior representante desse período é a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, que por duas décadas ocupou o posto de emissora líder de audiência. A programação radiofônica tinha humor, informação, dramatização, esporte e música. Evidente que “antes do rádio havia o disco, mas foi através das ondas radiofônicas que as antigas bolachas de 78 rotações por minuto, até então ao alcance de pou- cos, começaram a chegar ao grande público. E ao vivo, pois praticamente todo artista – dos menos conhecidos aos mais famosos, como Carmen Miranda e o Rei da Voz, Francisco Alves – divulgava em programas de rádio os sambas, marchas e valsas que tinha gravado em estúdio”. O rádio funcionava mais ou menos como hoje funciona o WhatsApp, com seus compartilhamentos de arquivos de áudios e vídeos virais. Claro que a notorieda- de não era instantânea, mas logo amadores se transformavam em profissionais; anônimos em figuras conhecidas; vozes desconhecidas em referencias; persona- gens regionais em nacionais… Assim surgiram atores, locutores, músicos, produtores, cantores… O artista de rádio, ídolo nacional, tinha consciência do papel que representava para a sociedade.
  • 5. 5 A ERA DO RÁDIO NO AMAZONAS Publicada em 12 de outubro de 2016. A década de 1950 ficou marcada pela acirrada competição pelo título de “Rainha do Rádio” que envolveu em disputas memoráveis cantoras como Emilinha Bor- ba, Marlene e Ângela Maria. Nessa década, os programas de auditório da emis- sora (Rádio Nacional) tornaram-se tão concorridos que era cobrado ingresso até para assistir os programas em pé. Foi Ephigênio Salles (1926/1929), um deslumbrado com as novidades tecnológicas de comunicação, quem deu início a Era do Rádio no Amazonas. “[…] em abril de 1927, uma rádio Marconi de ondas curtas começa a funcionar num prédio recém- -inaugurado da empresa AmazonTelegraph. O objetivo principal era difundir no interior cotações de produtos naturais, horários de barcos e outras informações de utilidade pública, além de divulgar realizações do Governo. A Voz de Manaós, como a rádio virá a ser conhecida, enfim inaugura a Era do Rádio no Amazonas”. Curiosa e coincidentemente isso ocorreu no auge da multiplicação dos recepto- res artesanais e da crise de fornecimento de energia elétrica na capital. No início, a rádio funcionava três dias por semana: segundas, quartas e sextas-fei- ras, entre às 21:00 e 22:00. A existência da Voz de Manaós foi efêmera, sua extinção deu-se em 1930. Após um hiato de oito anos, o paulista Lizardo Rodrigues construiu artesanal- mente um transmissor de 500 watts e deu início às transmissões da Voz da Bari- céia. O estúdio foi montado de forma provisória nos fundos de sua própria casa. Ao longo dos anos a Voz experimentou melhorias que mereceram elogios da im- prensa amazonense. Em 1945, passou a pertencer a cadeia dos Diários e Emisso- ras Associadas do Brasil, de Assis Chateaubriand, e teve seu nome alterado para Rádio Baré (PRF6). Em 24 de novembro de 1948, a Rádio Baré deixou de ser a única emissora de rá- dio de Manaus, quando a voz de Josué Cláudio de Souza anunciou com emoção: “Está no ar a Rádio Difusora do Amazonas, estação ZYS-8, a mais poderosa da planície e a mais querida de Manaus, operando na frequência de 4.805 kilociclos, ondas intermediárias de 62,40 metros”. Manaus ainda vivia o intervalo conhecido como “período da cidade em crise”, ini- ciado na década de 1920, quando a cidade perdeu o monopólio da produção da borracha para o Oriente, impactando enormemente na forma de vida da cidade que, segundo alguns historiadores, perdurou até 1967. Mas o sistema capitalista e o princípio da livre concorrência – consequência da livre iniciativa – permitiram que as Rádios Baré e Difusora e os cines-teatros, protagonizassem um período sem par na vida musical de Manaus, uma vez que o rádio era o melhor veículo de difusão das vozes amazonenses.
  • 6. 6 O jornalista Josué Cláudio de Souza, que pertencera a cadeia dos Diários e Emis- soras Associadas do Brasil, trouxe para a Rádio Difusora uma grade de programa- ção que seguia a mesma linha dos programas que faziam sucesso na Rádio Baré, isso deu início a uma rivalidade histórica. Com o aval das emissoras do eixo Rio-São Paulo, as duas Rádios organizavam inú- meros eventos musicais com apresentações de artistas brasileiros consagrados. Suas disputas por audiência não necessariamente ocorriam em seus estúdios, muitos programas eram realizados ao ar livre com a presença maciça do público. Com Rômulo Gomes à frente, a Rádio Baré agitava a cidade na Maloca dos Barés, um grande auditório ao ar livre, localizada onde hoje está instalada a Capitania dos Portos. A Rádio Difusora respondia no mesmo diapasão com a Festa da Mo- cidade, realizada primeiramente num espaço situado na Rua Silva Ramos e pos- teriormente no endereço onde hoje está edificado o Edifício Palácio do Rádio, na Avenida Getúlio Vargas.
  • 7. 7 BARÉ X DIFUSORA, UMA RIVALIDADE SAUDÁVEL Publicada em 15 de outubro de 2016. A rivalidade entre as Rádios teve seu auge entre 1949 e 1959. Os cantores mais fa- mosos do Brasil não só tinham suas músicas divulgadas pelas duas rádios, como a maioria deles aqui se apresentou: Aracy de Almeida, Mazzaroppi, Roberto Sil- va, Jararaca e Ratinho, Alvarenga e Ranchinho, Nuno Rolando, Lourdinha Bitten- court, Linda e Dircinha Batista, Nilo Sérgio, Nora Ney, Ângela Maria, a “sapoti”; Emilinha Borba, a “garota grau dez”; Marlene, Dilú Melo, Milton Teixeira, Chico Alves, “o Rei da voz”; Carlos Galhardo, “o cantor que dispensa adjetivos”; Nelson Gonçalves, “o Boêmio”; Silvio Caldas, “o cantor das despedidas”; Vicente Celestino, “a voz orgulho do Brasil”; Orlando Silva, o “cantor das multidões”; Jorge Goulart, Trio de Ouro e Dalva de Oliveira, “o rouxinol do Brasil”; Dalva de Oliveira (sem o Trio de Ouro), Luiz Gonzaga, o Rei do Baião; Blecaute, Las Palomitas, o garoto Paulo Molim, pernambucano que encantava cantando “Serenata Suburbana”, “Olinda, Cidade Eterna e “Recife, cidade lendária”, canções de autoria de Capiba; e outros cantores mais. As rádios traziam os artistas, os anunciantes patrocinavam hospedagem e trans- porte. As duas rádios também tinham seus próprios artistas e apresentadores. Os can- tores locais mais requisitados nos anos 1950, eram: Almir Silva, Guiomar Cunha, “a intérprete das valsas apaixonadas”, artista que fez parte do cast da Voz da Ba- ricéia, no fim da década de 1930; Orsine Marques, Ilka de Souza, Roque de Sou- za, Estevão Santos, Rosangela Fuentes, Maria Neide, Hélio Trigueiro, dentre ou- tros. Os apresentadores e animadores mais famosos eram: Belmiro Barrela, que também era cantor e compositor; Índio do Brasil, Romulo Gomes, Josaphat Pires, Jaime Rebelo, os irmãos Flaviano e Andrea Limongi, Wupslander Lima e Abner Dantas de Mesquita. Num fim de semana dos primeiros dias da década de 1950, o Cine Teatro Polite- ama estava lotado quando o apresentador Belmiro Barrela anunciou: “E agora, senhoras e senhores, é com enoooorme alegria que lhes apresento o harmonio- so conjunto musical, o grupo fenômeno, Looooos Cariiiiibeeees” (palmas e asso- bios). E prosseguiu: “… que hoje interpretará o grande sucesso de… (longa pausa) Panchito Ubaldino, “Se Va El Caramelero””. Ninguém, exceto o Ubaldino Meirelles, percebeu o “ improviso” do apresentador. Belmiro havia esquecido o autor daquele sucesso e, ao identificar o jovem estu- dante e futuro deputado federal na plateia, não contou conversa, deu-lhe a pater- nidade da música de Arsenio Rodriguez.
  • 8. 8 “Los Caribes” era um dos grandes conjuntos vocais de Manaus, tinha contrato de exclusividade com o Hotel Amazonas, mas também se apresentava em festas, clubes e na Maloca dos Barés. Dois outros conjuntos locais arrebatavam fãs, os “Ases Infernais”, exclusivo do Ideal Clube, e os “Cancioneiros da Lua”. O grupo “Cancioneiros da Lua” era formado por seis jovens, em sua maioria mem- bros da família Caminha: os irmãos Hiram, Ivan e Almeron Caminha, Hélcio e Rai- mundo – primos dos Caminha – e Clovis Bacuri. O grupo iniciou sua trajetória de sucesso em 1945, com apresentações em aniversários, mas em pouco tempo se tornou o melhor da cidade, tanto que Ademar de Barros, que por aqui esteve em campanha eleitoral para a presidência da República, o convidou para se apre- sentar em São Paulo. Os componentes do grupo, por serem estudantes e não ambicionarem viver profissionalmente da música, declinaram do convite. Partici- param da festa de inauguração da Rádio Difusora, antecedendo a apresentação de Orlando Silva, o “cantor das multidões”; e da inauguração do cine Éden. Eram contratados exclusivos do Atlético Rio Negro Clube, se apresentavam no progra- ma de auditório da Rádio Difusora e nos espetáculos ao ar livre da Festa da Cida- de. Os “Cancioneiros da Lua”, para a tristeza dos fãs, deixaram os palcos da cidade em 1952, no auge e prematuramente.
  • 9. 9 ARY BARROSO, QUEM DIRIA, FOI “GONGADO” EM MANAUS Publicada em 19 de outubro de 2016. Desde os 18 anos de idade, completados em 1949, Amélia Vitória era requisitada para tocar em bailes e festas de Manaus. Talentosa, fez parte do “Trio Baré”, com- posto por Chiquinho (contrabaixo), Hércules (bateria) e Amélia Vitória (piano). O Trio acompanhava os cantores trazidos por Bianor Garcia – funcionário da Rádio Baré – que para cá vinham sem seus músicos: Ivon Cury, Marlene, Linda Batista, Cauby Peixoto e, já nos anos 1960, Waldick Soriano. Amélia Vitória acompanhou diversos cantores amazonenses em bailes e festas em geral, como Júlio Otávio e Arminda de Oliveira. O Trio Baré chegou a tocar com o famoso “Trio de Ouro”, na ocasião composto por Herivelto Martins, Nilo Chagas e Noemi Cavalcanti. Amélia Vitória também fez dupla de apoio com o renomado pianista amazonense, Júlio Aleixo. Três passagens marcantes dessa notável pianista, que lamentavelmente pouco ou nenhum registro tem na vida musical de Manaus: naqueles anos, o Atlético Rio Negro Clube aceitava sócios militares desde que fossem oficiais. Aparentemente um impasse sem solução, já que a requisitada pianista, que lá com frequência se apresentava, era casada com o sargento Henrique, companheiro e companhia inseparável em todas as suas apresentações. Para tê-la, ao clube restou uma op- ção: quebrar a regra. Sob a alegação de que não pagava cachê para sócios, o clube barriga-preta não a remunerava em suas apresentações. Decidiu que lá não mais tocaria. Pois bem, Cauby Peixoto, numa de suas vindas à Manaus, tinha duas apresentações marca- das: a primeira às 10hs da noite, no Atlético Rio Negro Clube; a segunda, à 1h hora da madrugada, no Las Vegas, um clube que ficava na Av. Joaquim Nabuco entre a Rua Ramos Ferreira e a Rua Major Gabriel. Cauby e Amélia lá haviam ensaiado a tarde toda. Na hora da apresentação no Rio Negro, Cauby avisou que só entraria em cena se acompanhado da pianista. Emissários do clube foram, às pressas, buscá-la em casa. Enquanto ela ainda se aprontava para a apresentação no Las Vegas, o sar- gento Henrique assumiu o papel de empresário: “Amélia só tocará se todos os cachês antigos forem pagos. E mais! Para acompanhar o Cauby hoje o cachê será dobrado”. Os rionegrinos estrebucharam, mas pagaram todo o atrasado. A orquestra de Ary Barroso, de volta dos EUA, era a atração do Rio Negro. Amélia Vitória havia sido contratada para tocar nos intervalos de sua apresentação. Ary Barroso era um tremendo sucesso nacional, mas só tocava samba. Já por essas terras de Panchito Ubaldino, a preferência era dançar colado ao som de bolero. Quando o intervalo chegou, o “Trio Baré” fez o previsível, tocou boleros. A pista encheu de “ bailadores” e, ao final, aplaudiram e pediram bis.
  • 10. 10 Ao retornar, Ary Barroso, um tanto incomodado com a reação do público e, quem sabe pensando que estava a apresentar o seu concorrido Programa de Calouros – onde costumava aprovar ou “gongar” os postulantes – disse-lhe com rispidez: “é um absurdo a senhora tocar música estrangeira para o pessoal dançar”. Na pre- sença de algumas testemunhas, Amélia Vitória respondeu ao autor de “Aquarela do Brasil”: “Eu sou música e toco aquilo que o pessoal gosta de dançar”. Pois é, os papéis se inverteram, aqui o “calouro” Ary Barroso foi ”gongado”.
  • 11. 11 2 2 2ANOS 1950, IDADE DAS TREVAS OU ANOS DOURADOS? Publicada em 22 de outubro de 2016. Se por um lado está fixado na memória social como os “anos dourados” do gla- mour e do romantismo, por outro, numa análise mais crítica, a década de 1950 é entendida pelas correntes de opinião mais influentes das nossas crítica e his- toriografia musicais, como a década que viveu o auge do movimento folclorista brasileiro, uma concepção que consideravam atrasada, por que “impregnada de sonoridades “latinizadas” nas quais imperava um “romantismo de massas”. Eram os padrões interpretativos em que prevalecia o estilo vocal-operístico e com ex- cessiva emoção contida nos boleros e sambas-canções. A década, portanto, em linhas gerais, é vista como “um período dividido entre um momento de predomínio de uma noção da cultura e da música popular como produtos da massificação cultural, calcada em um repertório defasado e ainda ligado a uma sensibilidade ingênua de cunho rural e regional” conforme blá. No livro Chega de Saudade, Ruy Castro compara a vida musical do Brasil pré- -bossa nova a uma grande quermesse, na qual imperavam baiões e sanfonas. “Mesmo o qualitativo colado àquela década, algo nostálgico e carinhoso, de “a era do rádio”, em parte é ofuscado pela pujança e qualidade desse meio de comuni- cação nos anos 1930 e 1940, antes de ser popularizado e ocupado pelas “macacas de auditório” justamente nos anos 1950, termo em si mesmo pejorativo e racista. Enfim, na querela entre os antigos e modernos no campo da historiografia e da produção musical brasileira, os anos 1950 acabaram ficando no limbo da história como uma espécie de “idade das trevas musicais”. Se os medievalistas há muito já conseguiram se desvencilhar dessa adjetivação do seu período de estudo, a música brasileira da década de 1950 ainda aguarda um novo julgamento historio- gráfico, para o qual o campo da história da cultura teria muito a contribuir”. Bem, se alguns historiadores enxergam a década de 1950 sob uma perspectiva problemática, onde o rótulo de “anos dourados” não cabe, o julgamento dos ma- nauaras que viveram aqueles anos é diametralmente oposto. Só lhes trazem lem- branças felizes, retratadas nos indisfarçáveis brilhos que os seus olhos irradiam. “Idade das trevas musicais? Negativo! Anos dourados, sim! Então o que dizer dos anos 1960? Anos de chumbo? – Referindo-se ao golpe militar de 1964 – Ora bolas! ” Definiu e arrematou Claudio Figliuolo. Para os amazonenses que conheço e que viveram os anos 1950, não cabem lem- branças da vida musical de Manaus que não sejam doces e felizes. O disco Canção do Amor Demais (1958), da cantora Elizeth Cardoso, para muitos é considerado o momento inaugural da Bossa Nova. Todas as faixas são canções compostas pela dupla Tom Jobim e Vinícius de Morais, além disso, em algumas faixas, João Gilberto acompanha Elizeth ao violão com uma nova “batida”.
  • 12. 12 Era a Bossa Nova dando boas-vindas aos anos 60. A palavra bossa surgiu pela primeira vez na década de 1930, na letra da música Coisas Nossas, samba de Noel Rosa. Na década seguinte a expressão “bossa nova” começa a ser usada para denominar os improvisos das paradas súbitas, com en- caixe de falas, durante a música nos sambas de breque.
  • 13. 13 BOSSA NOVA, UM MOVIMENTO DA MPB Publicada em 26 de outubro de 2016. A Bossa Nova, singular movimento da Música Popular Brasileira - MPB, teve início, “oficialmente”, em agosto de 1958, quando chegou às lojas brasileiras do ramo, o disco de 78 rotações de número 14.360 do selo Odeon. Era o cantor João Gilberto a inovar com as músicas Chega de Saudade (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) e Bim Bom, de sua própria autoria. A novidade trazia elementos do samba sincopado, alguma influência do jazz americano e do impressionismo erudito de Debussy – compositor que com a sua obra-prima “Prélude à l’après-midi d’un Faune” revolucionou ao inventar um es- tilo de música inspirado na pintura impressionista, na poesia simbolista e na mú- sica asiática – e Maurice Ravel, que fazia uso dos mesmos efeitos musicais. O movimento musical resultava da emergência urbana do país em plena fase desenvolvimentista do governo de Juscelino Kubitschek (1955-60), o “presidente Bossa Nova”, cujo Plano de Metas de seu governo prometia o crescimento da nação de “50 anos em 5”. Aliado a isso havia um inconformismo latente com o estandardizado formato musical predominante dos “dós de peito” – aqueles can- tados em plena voz, assim chamados para diferenciá-los do falsete. Nesse am- biente de inquietação e desagrado, surgiu uma corrente de músicos inovadores como os violonistas Luís Bonfá, Garoto, Valzinho e Laurindo de Almeida; também João Donato e, principalmente, o pianista e compositor Johnny Alf. A voz de Elizeth Cardoso representava o padrão do “vozeirão” da Era do Rádio (1940/1950), que os jovens classe-média-zona-sul do Rio de Janeiro achavam ca- fona ou “démodé”. Assim, a batida de violão de João Gilberto era o grande “bara- to”. Quando, em 1959, ele regravou Chega de Saudade em seu primeiro LP, sua interpretação vocal ditou o que viria a ser o novo estilo, ou seja: a contenção e a economia de meios; nada de vidrados, prolongamentos vocais, nada de vozeirão. O termo MPB – Música Popular Brasileira -, surge pela primeira vez na história da música brasileira em 1960, empregado por Ary Barroso na contracapa do disco ‘Bossa Nova’, de Carlos Lyra. Com o passar das décadas o termo aumentou sua abrangência de estilos, ampliando seu significado – exceção feita ao pop-rock – e hoje abarca praticamente qualquer tipo de música brasileira. No mesmo instante em que esse movimento efervescia, contagiando brasileiros dos mais distantes rincões, “[…] Manaus era uma suntuosa ruína à margem do Brasil, o Teatro Amazonas era quase exclusivamente ocupado por valores locais, artistas da cidade letárgica na tentativa de despertar alguma emoção mais forte. Eram programas bastante românticos, com muita música do século XIX”.
  • 14. 14 Apesar desse cenário decadente, onde os jornais estampavam manchetes como: “Uma Manaus pobre e abandonada”, a cidade acompanhava tudo o que a déca- da de 1960 sugeria ao país, especialmente sua marcante característica expressa- da pela diversidade de posições em todos os campos da atividade econômica, política e cultural: a contradição. Era como se o Brasil quisesse se abrir para o mundo e, ao mesmo tempo, voltar-se para dentro de si.
  • 15. 15 PARA COMBATER A CRISE ECONÔMICA, ROCK AND ROLL Publicada em 29 de outubro de 2016. Enquanto o movimento Bossa Nova se espargia pelo país no início dos anos 1960, por aqui os cantores amazonenses de rádio, mantinham suas participações em programas de auditório, cantando os sucessos de grandes artistas nacionais. Os mais festejados eram: Nicolau Murno, Helio Azaro, Celso Miranda, Arminda Oli- veira, Júlio Otavio, Maria das Dores, Maria Aparecida, Katia Maria, Sebastiana Mo- reira, Marlene Santana, Clovis Carvalho, Paulo Lino, Almir Silva, Salim Gonçalves, Conrado Silva, Wilson Campos, Celso Miranda, Luiz Pinto (o “Little Box”), Trio Ita- puan, “ Los Caribes” e outros. Os meios de comunicação – jornal e rádio – influenciavam significativamente na definição de gostos e comportamento do manauara. Ao cinema cabia exercer outro preponderante papel na formação e comportamento dos artistas locais: a absorção dos trejeitos, através da “visualização das performances dos artistas nos filmes musicais que estavam no auge”. Assim, com os filmes de Elvis Presley a inundar as telas a cada ano – Feitiço Ha- vaiano; Talhado Para Campeão; Garotas, Garotas e Mais Garotas; Louras Morenas e Ruivas; O Seresteiro de Acapulco e outros – e os Reis do Iê Iê Iê (A Hard Day’s Ni- ght) – primeiro filme dos Beatles – a lotar as salas de cinemas da capital, os ídolos internacionais conquistavam espaço e se juntavam aos ídolos nacionais no gosto das pessoas daqui, que não só os viam e ouviam, como os imitavam. Em Manaus, os anos 1960 tinham como característica a continuidade da crise econômica, a tentativa de internacionalização da Amazônia e a aposta na Zona Franca como forma de integração da cidade ao resto do Brasil. A válvula de es- cape da parcela da juventude “irrequieta” estava no envolvimento com a música que chegava através do rádio e do cinema. O rock and roll, surgido no fim da década de 1940 e início de 1950, com seus acordes e batidas, era uma alternativa sem volta. Desde 1961, o radialista Joaquim Marinho tratava de consolidar esse gênero musical através do programa denomi- nado “Chegou a Hora do Rock”, na Rádio Rio Mar, a tocar em sua grade musical os sucessos dos Beatles, Rolling Stones, Bill Haley e seus Cometas, Elvis Presley e outros. Definitivamente Marinho chegara com uma proposta que fugia das baladas ro- mânticas predominantes. Ele viajava para os Estados Unidos, comprava, ouvia discos de rock compulsivamente e os compartilhava em seu programa.
  • 16. 16 Além disso, tinha a vantagem de ser o representante de discos da Philips, o que possibilitava receber todos os lançamentos da gravadora. Joaquim Marinho foi o embaixador do rock em Manaus. A juventude amazonense mais abastada tinha o privilégio de viajar para o eixo Rio-São Paulo e até para o exterior. Esse privilégio permitia que comprassem as novidades musicais antes que por aqui chegassem. O barato para eles não era só convidar os amigos para ouvir as raridades, era, antes, ouvir os discos muitas vezes e, quando da apresentação coletiva, se exibir vocalizando com o cantor ou grupo de rock correspondente. Foi ouvindo rock e assistindo filmes de rock que surgiu a primeira banda do gê- nero, “The Beats Rock”. Joaquim Marinho fazia os vocais e tocava bateria; o médi- co Evandro Ribeiro, no contrabaixo; o economista Assis Mourão, no piano; e David Pennington, na guitarra e vocais. A banda fazia cover dos Beatles e, segundo Ma- rinho, atuou por cinco anos.
  • 17. 17 OS CLUBES, O TEATRO AMAZONAS E A TELEVISÃO Publicada em 2 de novembro de 2016. Assim como nas grandes capitais brasileiras, as festas nos clubes de Manaus tidos como de elite – Cheik, Atlético Barés, Atlético Rio Negro e Ideal – eram realizadas com som de Alta-fidelidade, mais conhecido como Hi-Fi – high-fidelity -, em que a reprodução de áudio era feita por um aparelho de som, com a maior fidelidade possível ao som real, onde o desejável era minimizar, ao máximo, os efeitos de ruídos e distorções. Os clubes mais populares da cidade eram o River Clube, Luso Sporting Clube, União Esportiva Portuguesa, Sul América Esporte Clube, São Raimundo, Princesa Isabel, Rio Branco Futebol Clube, Guanabara Clube de Campo, Cliper Clube, Amé- rica Futebol Clube, Associação Atlética Banco do Brasil-AABB e Nacional. Todos esses promoviam festas, bailes de carnaval e prestigiavam os cantores da cidade. Às vezes, nos fins de semana, a União Atlética Constantinopla, Radilândia Clube, Olímpico Clube e Acapulco, se convertiam em boates. Além dos clubes, ocorriam eventos musicais nos balneários – até meados da dé- cada de 1960, Manaus era conhecida como uma “cidade balneária”-, no Teatro Amazonas, nos cinemas Ypiranga, Odeon e Guarany e nas rádios de maior audi- ência: Baré, Difusora e Tropical – a primeira rádio em FM do Brasil e a segunda na América do Sul, inaugurada em 1968. O majestoso Teatro Amazonas recebeu celebridades internacionais como a can- tora espanhola Sarita Montiel, o tenor italiano Pepes del Palucci e o pianista, com- positor e regente vienense, Frederico Egger; também recitais da soprano bra- sileira Blanca Bouças. Para que o teatro não se transformasse numa Arena da Amazônia, programavam-se eventos não convencionais para homenagear o go- vernador, outras autoridades políticas e até diretores de jornais. Lá se apresentavam sob a batuta do maestro Divaldo Santiago, o coral João Go- mes Junior, que em março deste ano completou sessenta anos; noutras ocasiões o pianista amazonense, radicado no Rio de Janeiro, Arnaldo Rebello; noutras o “Conjunto de Câmara Orpheus”, um trio de cordas e piano, de Manaus, coman- dado pelo violonista, Dr. Pedro Bacelar, especializado em música erudita. Garan- tiam-se com isso, o “despertar de emoções” na sociedade baré e a não conversão do Teatro Amazonas em um elefante branco. Os cinemas não só apresentavam em suas telas filmes musicais ou películas es- treladas por Elvis Presley ou Beatles, eram cines-teatros que recebiam cantores renomados como Orlando Dias, o “cantor das multidões”, que em março de 1961, se apresentou no cine Ypiranga, no bairro da Cachoeirinha.
  • 18. 18 Se no Brasil a televisão chegou por obra de Assis Chateaubriand no ano de 1950, em São Paulo, com a TV Tupi; em Manaus a televisão só chegou 15 anos depois, com a TV Manauara – a primeira emissora de televisão da Amazônia -, surgida como hobby da Família Hauache, em 1965. A TV Manauara foi uma das primeiras TVs a cabo do Brasil, mas a experiência não teve continuidade em decorrência de inúmeros problemas técnicos. A TV Ajuricaba, também da família Hauache, começa a transmitir livremente em 5 de setembro de 1967 (1967/1986). Era o canal 8, em UHF, estação repetidora da TV Record. Mas havia um programa de calouros ao vivo, realizado aos domingos, que não só prendia a atenção das famílias manauaras, como também fazia com que a timidez cabocla se liberasse, expondo publicamente os mais distintos ta- lentos, era o “Peneira Ajuricaba”. Em 21 de novembro de 1962, “realiza-se no Carnegie Hall, em Nova York, Estados Unidos, o primeiro e lendário Festival de Bossa Nova (também introduzido como New Brazilian Jazz) com apresentação de João Gilberto, Tom Jobim, Edu Lobo, Bola Sete, Sérgio Ricardo, Sérgio Mendes e outros. É o lançamento internacional oficial e em grande estilo da bossa nova com muita repercussão nos Estados Unidos e Brasil”
  • 19. 19 3 3 3ROBERTO CARLOS EM MANAUS Publicada em 5 de novembro de 2016. A Bossa Nova era a maior sensação norte-americana no começo dos anos 60, sendo suplantada apenas pelo surgimento dos Beatles. O sucesso do disco ‘Jazz Samba’, do guitarrista Charlie Byrd e do saxofonista Stan Getz, populariza o gêne- ro no país e credencia os americanos a adotarem o estilo vindo do Hemisfério Sul. O movimento Jovem Guarda, também conhecido como iê-iê-iê, surge em 1963, era a versão brasileira do rock mundial, responsável pela introdução da guitarra elétrica e instrumentos eletrônicos. Em 1964 ocorre um marco na história da MPB, no Rio de Janeiro, o Show Opinião. Lá o maranhense João do Vale (1934-1996) se destaca com a música “Carcará”, composição dele em parceria com José Cândido. Liderado por Roberto Carlos, em 1965, surge o programa de televisão semanal com o mesmo nome – Jovem Guarda – na TV Record, na capital de São Paulo. Roberto o apresentava ao lado de Erasmo Carlos, Wanderléa e inúmeros convi- dados, como Martinha, Rosemary, Antônio Marcos, Eduardo Araújo, Ronnie Von, Paulo Sérgio, Prini Lorez, Sylvinha Araújo, Wanderley Cardoso, Jerry Adriani, Vanu- sa, Evinha, Deny e Dino, Leno e Lilian, The Jordans, The Jet Blacks, Renato e Seus Blue Caps, Golden Boys, Lafayette e seu Conjunto, Os Vips, Os Jovens, The Pops, The Fevers, Os Incríveis, Trio Esperança e outros mais. O sucesso de Roberto Carlos era inconteste, seus shows arrastavam multidões e os jovens daqui ansiavam por vê-lo. Ele veio duas vezes, em 1965 e 1966. Em sua segunda vinda o aeroporto de Ponta Pelada lotou, foi dureza para a se- gurança conter a excitação da turba, tinha desde crianças a idosos, autoridades, senhoras, senhores e jovens. Era o dia 1º de setembro de 1966. Seriam duas apresentações, a primeira no Circo Americano, montado na Praça 14, bem em frente à igreja de Nossa Senhora de Fátima, muito antes das lancho- netes e da construção da Escola de Samba Vitória Régia. Num tempo em que não existia ponte de embarque, os passageiros desciam pela escada do avião e caminhavam até a sala de desembarque. Os passageiros foram surgindo um a um, o Rei do iê-iê-iê foi o último. Enquanto caminhava o povo gritava em delírio. Houve certa apreensão quanto a sua segurança, tamanha era a histeria, mas tudo correu bem. Exceto para alguns mais exaltados, que receberam, dos desastrados PMs destacados para a missão, “ carinhosos” golpes de cassetetes em partes não selecionadas dos seus corpos.
  • 20. 20 A apresentação foi apoteótica, RC agora muito mais popular que dá primeira vin- da, recebeu um cache espetacular, muitas vezes superior ao da sua primeira vin- da. Vigiado em todos os seus passos – reza a lenda urbana -, foi flagrado contando as notas dos pacotes de dinheiro que continham os doze milhões de cruzeiros que recebera de cache. Eram tantas as notas, todas amarradas em ligas de borracha, que a medida que iniciava uma nova contagem, retirava as ligas e as colocava em seu braço esquerdo. No dia seguinte a novidade se espalhou pela taba, por meses não haveria um jovem manauara que não fosse encontrado com o braço esquer- do cheio de ligas de borracha. Definitivamente os ídolos ditam moda. Se perguntado a qualquer um fã, o que do Roberto Carlos ele pensava, a resposta seria sempre a mesma: “Bicho, o Roberto é uma brasa, mora! ”
  • 21. 21 OS FESTIVAIS, A ESPERANÇA DE UM NOVO TEMPO E AS DUBLAGENS Publicada em 9 de novembro de 2016. Além da Bossa Nova e do movimento Jovem Guarda, os anos 1960 trouxeram consigo os grandes festivais de música popular brasileira. Coube a extinta TV Ex- celsior, em 1965, dar o pontapé inicial àquela era, com a realização do I Festival de Música Popular Brasileira. Na edição saiu-se vitoriosa a música “Arrastão“, de Edu Lobo e Vinícius de Moraes, interpretada por Elis Regina. No ano seguinte acontece o Festival Nacional de Música Brasileira, sagra-se campeã a música “ Porta-Estandarte”, de Geraldo Vandré e Fernando Lona, defendida por Tuca e Air- to Moreira. No mesmo ano, a Record realiza o II Festival de Música Popular Brasileira. Nos anos subsequentes realizou o III, IV e V festivais, além da I Bienal do Samba. A TV Rio, em 1966, realiza o I FIC, Festival Internacional da Canção. A partir do II e até o VII, já nos anos 1970, a Rede Globo assumiu as suas realizações. Foram nesses fes- tivais que despontaram Elis Regina, Edu Lobo, Caetano Veloso, Gilberto Gil, MPB 4, Gal Costa, Nara Leão, Os Mutantes, Paulinho da Viola, Milton Nascimento, Tom Zé, Chico Buarque e outros mais. No Amazonas, o intelectual Arthur César Ferreira Reis assume como o primeiro governador do Amazonas indicado pelo Regime Militar (1964/1967). Conhecido como o “Velho Reis” e o “Amigo das Artes”, promove mudanças administrativas e culturais de relevância, com destaque para o Festival do Cinema, Festival de Mú- sica e Feira do Livro. Arthur Reis muito se empenhou nas questões relacionadas à Amazônia e no incentivo a publicação de obras de autores amazonenses. Foi um dos mais produtivos e importantes historiadores da Amazônia, suas obras sobre a região amazônica são imprescindíveis para quem pretende estudá-la. Foi ele quem desfraldou, como poucos, a bandeira da não internacionalização da Amazônia, também encomendou ao poeta e compositor Áureo Nonato, uma música cuja letra mudasse o conceito que os brasileiros tinham desta região e es- timulasse o povo daqui a se orgulhar da cidade, da sua origem e da sua identida- de. Em 27 de junho de 1965 deu-se o lançamento da música Canção de Manaus: “Quem viu você, não pode mais esquecer/ quem vê você, logo começa a querer; Manaus, Manaus, Manaus minha cidade querida…”. Paralelo às mudanças que Arthur Reis promovia na área cultural, em meados de 1964 deu-se início, em Manaus, a um período em que a dublagem caiu nas gra- ças dos citadinos. Atingiu seu ápice em 1965 e 1966, com as realizações de dois festivais, o 1º em 18 de setembro de 1965 e o 2º no dia 24 de setembro de 1966, ambos durante a semana do Rádio. A manifestação começou como uma brinca- deira, depois virou febre e se profissionalizou: o artista escolhia o cantor, a música, criava uma coreografia, ensaiava em frente ao espelho de casa até atingir a per-
  • 22. 22 feita sincronização entre mímica e voz; confeccionava uma roupa especial e se apresentava, profissionalmente, nas festas dos principais clubes de Manaus, nas rádios e televisão. A dublagem tinha boa aceitação popular, em grande parte por uma questão conjuntural. O empresariado local experimentava a escassez de recursos finan- ceiros e, consequentemente, falta de liquidez. Exatamente o que hoje a recessão econômica brasileira nos impõe. Isso os impedia de trazer artistas nacionais, as- sim, eram eles, os dubladores profissionais, que preenchiam a ausência dessas atrações. O dublador era aquele artista que, com muito capricho, substituía o titular da obra, ora teatralizando ora caricaturando sua apresentação. Os mais talentosos eram: Eline Santana, Salim Gonçalves, Conrado Silva, Almir Silva, Delfim Sá, Wil- son Campos e Ednelza Sahdo. A essa última artista coube, com muita felicidade, pôr termo a arte de dublar: “ um “teatro musicado”.
  • 23. 23 A TROPICÁLIA E A REPRESSÃO DO GOVERNO MILITAR Publicada em 12 de novembro de 2016. Em 1967, um marco na história da Bossa Nova e da música popular brasileira, Tom Jobim grava com Frank Sinatra o álbum americano “Francis Albert Sinatra & An- tônio Carlos Jobim”. Nele Sinatra interpreta sucessos da Bossa Nova, como Dindi, Garota de Ipanema e Corcovado, todos de autoria de Tom. O dado curioso do dis- co é que Tom o acompanha no violão e não no piano, seu instrumento favorito. Conta-se que Sinatra, por ciúme, não deixou que Tom o acompanhasse no piano, instrumento que mais prestígio dava aos músicos americanos. No mesmo ano de 1967, em Manaus, ocorre “a 1ª Feira de Incentivo ao Desenvolvi- mento Econômico do Estado do Amazonas – FIDEA, um evento promovido pela recém-criada Superintendência da Zona Franca de Manaus – SUFRAMA, aconte- cimento que contou com o apoio do Governo do Estado, Prefeitura e Federação das Indústrias. Em uma área de 7.000m² na Rua José Clemente, no trecho da la- teral do Teatro Amazonas, foram montados 130 stands a expor todos os produtos saídos das fábricas instaladas em território amazonense. Durante um mês, do dia 21 de maio a 20 de junho, entre as 18h:00min e 23h:00min, foram mostrados ain- da, couros silvestres extraídos da imensa fauna amazonense e beneficiados em Manaus, e outros produtos comercializados na praça local. A Feira trouxe atrações musicais especialíssimas: Agnaldo Timóteo, Zimbo Trio, Brazilian Beatles, Maritza Fabianni, Renato e seus Blue Caps e um Conjunto da Guiana Inglesa de nome Des Glasford and Combo 7. Os homens fizeram tanto sucesso com o som que extraiam dos camburões de ferro – especialmente com as músicas Only You e See You in September – que deixou a todos boquiabertos. Não há registros em jornais ou em qualquer literatura Baré, mas os amigos Lúcio Bezerra de Menezes e Osvaldo Frota, moradores da Rua José Clemente, no dia seguinte ao referido show, “conseguiram” dois camburões “jogados” dentro da Santa Casa de Misericórdia e, misericórdia! Por dois dias, nos fundos da casa do segundo, “ensaiaram” exaustivamente. Não conseguiram arrancar o som deseja- do dos camburões, só o som irado vindo da vizinhança. Ainda em 1967, acontece o primeiro e um dos mais importantes festivais da his- tória da cidade, o Festival Estudantil de Música Popular Brasileira, evento organi- zado pelo Diretório Central dos Estudantes da Universidade do Amazonas, a UA, hoje UFAM. O festival teve três edições e trouxe shows de artistas nacionais, como Jards Macalé, Gilberto Gil e Chico Buarque. O ano foi pródigo. A partir do Festival de Música Popular realizado pela TV Record naquele ano, surge o tropicalismo, movimento musical que teve enorme influ- ência da cultura pop brasileira e internacional, além de correntes de vanguarda, como o concretismo.
  • 24. 24 Também conhecido como Tropicália, inovou ao promover a mistura entre vários estilos musicais (rock, bossa nova, rumba, baião, samba, bolero, entre outros). Era um movimento de ruptura e sacudiu o ambiente da música popular e da cultura brasileira, especialmente a partir do lançamento do disco ‘Tropicália – Panis Et Circenses‘, em julho de 1968, com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Nara Leão, Os Mutantes, Tom Zé, além dos letristas José Carlos Capinam e Torquato Neto e o maestro Rogério Duprat. Afora a música e a mensagem que trazia, alterou critérios vigentes, como: com- portamento, corpo, sexo, cabelo e vestuário. O movimento foi reprimido pelo go- verno militar e durou pouco mais de um ano (1967/1968). Eram músicas cujas le- tras tinham conteúdo poético, com críticas sociais e tratavam temas do cotidiano. O nome pode ter surgido em um texto do crítico Nelson Motta, inspirado na obra Tropicália, do artista plástico Hélio Oiticica; ou, sob a mesma inspiração, dado por Caetano Veloso.
  • 25. 25 “MANAUS ERA UMA CIDADE VEGETAL…” Publicada em 16 de novembro de 2016. “O ano de 1968 foi o pior de todos os tempos, na mais improvável das cidades, para se fundar um grupo de teatro. Ainda assim nasceu o TESC, o Teatro Experimental do SESC do Amazonas. Da cabeça do poeta Aldísio Filgueiras, da ação do teatró- logo Nielson Menão e da vontade da direção do SESC do Amazonas. Após um curso de artes cênicas ministrado por Nielson Menão, o SESC decide organizar um grupo de teatro permanente, que fez história e iria se transformar no grande espaço de resistência cultural num momento de angústias e transformações“. Contrastando com o conceito cunhado por Márcio Souza de “o pior de todos os tempos”, naquele ano de 1968, o governo militar anunciava medidas para a ocu- pação da região, dentre elas a extensão da Zona Franca para o interior, prioridade para telecomunicações, energia elétrica, água e esgotos, integração e ocupação do território, rodovias, ampliação do porto, pesquisa mineral, aumento da capaci- dade da refinaria de Manaus, projetos que objetivavam acompanhar o progresso nacional em andamento. As medidas anunciadas pelo governo prometiam, o cenário descrito por Márcio Souza não mentia, mesmo assim Manaus inicia a era dos Festivais com a reali- zação do Iº Festival de Música Estudantil do Amazonas, promovido pelo DEPRO – DCE- UESA. O Festival ocorreu no Teatro Amazonas, no período de 26 a 28 de novembro. Sagrou-se vencedora a música “Giramundo”, de Aníbal Beça. Em 1969 acontece o IIº Festival de Música Estudantil do Amazonas, desta vez re- alizado no Atlético Rio Negro Clube, no período de 16 a 18 de setembro. O Evento trouxe como atração para o seu encerramento, o conjunto musical Os Mutantes, grupo que havia acabado de se classificar para a final do Festival Internacional da Música, no Rio de Janeiro. A música Jogo de Calçada, de Ilton Oliveira e Wandler Cunha, tirou o segundo lugar no Festival, mas em primeiro no gosto de Os Mutantes. “O Ilton escreveu a letra de ‘Jogo de calçada’ e me entregou para eu fazer a músi- ca e participarmos do festival. Para nossa felicidade, ficamos em segundo lugar e, enquanto eu me apresentava, Os Mutantes estavam atrás do palco esperando a hora de entrar. Eles ouviram a música e depois o Joaquim me chamou num can- to dizendo que o Serginho [Dias] queria falar comigo. Fiquei muito surpreso com isso e fui lá bater um papo rápido com ele, a Rita Lee e o Arnaldo Baptista”. “Os Mutantes respeitaram a harmonia e a melodia originais, mas Arnaldo Baptista mudou algumas palavras da letra e acabou entrando como coautor da música”, diz Wandler Cunha.
  • 26. 26 A partir de 1969, com a Zona Franca de Manaus, o comércio se expande e os meios de comunicação ficam mais viáveis com a chegada de mais emissoras de rádio e televisão. Era o Governo Federal almejando o desenvolvimento acelerado da região, se empenhando “em converter a Amazônia no celeiro do Brasil e do mundo”. O desenvolvimento acelerado, almejado pelo Governo Militar, trouxe consequ- ências irreversíveis, “Manaus era uma cidade vegetal, com folhas, flores e frutos em todos os quintais. Uma cidade verde e perfumada. Aquela cidade da minha infância, infelizmente, não existe mais”. O poeta, escritor, blogueiro e compositor Simão Pessoa já deveria ter versado e musicado esse enredo-lamento que é de todos nós. Tomara que ele não esteja esperando que o pai Dudu de Ogum evo- que o ex-governador Arthur Reis para que esse o encomende. Cuida, Simão!